O CÔNCAVO E O CONVEXO

Uma visão metafísica (Espírita) da homossexualidade

Gilvan FX



® Brasília – 2014. 

Conteúdo

  • Introdução
  • A instituição de um direito que pode não ser legal
  • A força do desejo corrompe a ótica dos sentidos
  • A falibilidade das deliberações humanas
  • A infalibilidade dos desígnios de Deus
  • As duas faces da vida e suas vinculações
  • As duas faces do sexo e a universalidade das relações
  • Um modelo de família que se autoextingue
  • As dificuldades de adaptação ao gênero
  • Os desalinhos e o difícil resgate das virtudes
  • A transição do homo sapiens para o homo spirituale
  • As mídias de massa e o incentivo ao sensualismo
  • As glórias da tolerância
  • O Côncavo e o Convexo




Introdução
O presente ensaio, idealizado a partir da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que reconheceu a união homoafetiva, fundamenta-se no fato de que essas relações não podem ser analisadas apenas sob o ponto de vista da existência do homem na Terra. Deve ser examinada de forma holística, posto que a existência atual, na esfera física, tem consequências na dimensão espiritual. Por haver conexão da vida presente com as precedentes e da atual com as subsequentes, há que se destacar a necessidade de submissão dos nossos atos aos desígnios de Deus, contrapondo-se à falibilidade das deliberações humanas, baseado no fato de que Ele sempre nos precedeu, engendrou o universo com todos os seres e coisas e os harmonizou com suas Leis infalíveis. Sintônico com essa realidade inconteste, importante evidenciar a probabilidade das relações homoafetivas virem a ser direção equivocada, escolhida com fulcro na interpretação unilateral e incompleta do horizonte da vida. Nesse cenário, o que parece ser a conquista de direito, pode revela-se como meio de postergar a assunção de responsabilidades e de aplicar as verdades universais.
A abordagem da homossexualidade sob o ponto de vista metafísico, à luz do Espiritismo, vai propiciar reflexão mais conscienciosa aos que já vivenciam as relações homoafetivas e aos que destes receberem seu legado, para que não se distanciem dos valores inamovíveis do Ser Supremo. Esses valores não se metamorfoseiam ao sabor da vulnerabilidade do pensamento humano, nem no tempo, nem no espaço. Dessa forma, o homoafetivo terá a oportunidade de perscrutar, na sua consciência, o grau de sujeição que seu pleito dedica aos valores, aos deveres e à missão que Deus estabeleceu para cada Espírito na Terra, nas suas relações sociais e especialmente na familiar, afinal, os efeitos desse pleito não abrangem só o plano convencional de nossa existência, mas, também, o que transcende a natureza física do nosso mundo.

A instituição de um direito que pode não ser legal
Os movimentos sociais são impelidos por grupos representativos de indivíduos que demonstram insatisfação por algum direito existente que é negado ou que defendem a implantação de supostos direitos com base em ideologias ou novos conceitos de vida em sociedade. Tais movimentos, a exemplo do Humanismo, da era Renascentista, são sempre impactantes na vida das pessoas, porque se contrapõem ao padrão vigente do cotidiano. Na esteira dessas mudanças sociais, o Supremo Tribunal Federal (STF), numa decisão histórica, se posicionou frente à mais controvertida reivindicação pleiteada pelo movimento dos homossexuais: o reconhecimento da união homoafetiva.
Embora controvertida, a decisão proferida em março de 2011 contou com a unanimidade dos ministros equiparando a união de indivíduos do mesmo sexo à união estável heteroafetiva, portanto, equivalendo-se também a uma entidade familiar. A ação reivindicava a interpretação do art. 1.723 da Lei nº 10.406, de 10.01.2002 (Código Civil) à luz da Carta Magna de 1988. Sustentava-se que o não reconhecimento das uniões homoafetivas feria os princípios da dignidade humana (art. 1º, III), da igualdade (art. 5º, caput), da vedação de discriminação odiosa (art. 3º, V), da liberdade (art. 5º, caput) e da proteção à segurança jurídica (art. 5º, caput), todos da Constituição Federal.
Esse posicionamento do STF de reconhecer a união homoafetiva também abriu caminho para que venha a se tornar, com a regulamentação, contrato análogo ao matrimônio (união heteroafetiva consubstanciada no casamento civil). Esse fato é um marco na história contemporânea no tocante à luta por direitos civis e atualmente é frenesi da mídia e dos missivistas dos direitos humanos.  Esses dois segmentos consideraram, com os homossexuais, que essa reivindicação era direito legítimo e que sua indefinição ignorava as injustiças sofridas por essa minoria, já que, no seu entendimento, esse direito guarda simetria com o dos heterossexuais no que se refere à expressão dos sentimentos. Justificam, ainda, que sua positivação no mundo jurídico era inevitável, por tratar-se de modo de sentir inato, por ser notória a comunidade dessa convivência na sociedade, por haver carência de normas sobre o assunto e pelo caráter de inovação que esse tipo de relação contratual imprime à tradição familiar.
Movido pelo senso de submissão aos preceitos divinos gravados em minha consciência, pretendo aqui evidenciar a necessidade de prudência quanto às concessões legais feitas de forma prematura, como é o caso da que motivou esse ensaio: o reconhecimento da união homoafetiva.  Esse tipo de relação, além de inadequada, fere a lógica estabelecida por Deus no que se refere à missão de cada ser humano neste planeta, coadjuvada pela função do sexo afetivo na instituição familiar. Refletindo sobre a perfeição das concepções divinas e ponderando sobre porque as coisas são assim e não de outro modo, Leibniz assim se expressou (grifei):

A força do desejo corrompe a ótica dos sentidos
Neste momento em que o homoafetivo constrói um paraíso que lhe apraz, fruindo comportamento inerente, é claro, ao seu nível evolutivo, ilude-se ao defender propósito alicerçado numa interpretação distorcida da vida. Ao eleger direção amparada tão somente no seu direito de livre escolha, sem que esse rumo se apoie nos postulados superiores, provável é que o exercício desse modo de expressar sua afetividade resulte em graves consequências em futuro não muito distante. Por isso, nenhuma abstração melhor espelha essa conduta do que aquela que faz paralelo com o efeito causado pela reflexão dos espelhos côncavos e convexos. A ciência desses espelhos diz: o espelho côncavo amplia um objeto e reduz os demais à sua volta, enquanto o convexo reduz um objeto para ampliar os demais à sua volta.  Daí, fácil constatar a imbricação de sentidos das imagens retornadas por esses espelhos com o caso em análise, visto que nem um nem outro reflete a imagem real.
Pretendo, com isso, comparar a imagem refletida desses espelhos com os desejos, escolhas ou interesses do indivíduo homoafetivo, em oposição à imagem refletida pelo grande espelho da vida. Portanto, a depender do foco ou do interesse pretendido pelo homoafetivo, tanto o espelho côncavo quanto o convexo pode satisfazer seu propósito quanto à imagem por ele desejada: i) se a imagem do espelho côncavo amplia o indivíduo homoafetivo para destacá-lo da coletividade, a justificativa é a de que sua postura não é egoísta perante a sociedade, mas a que defende a prevalência do seu direito fundamental de ser; ii) se a imagem do espelho convexo reduz o indivíduo homoafetivo para destacar a coletividade, diz-se tratar de ação egoísta da sociedade, por negar-lhe direito de ser que é seu e é fundamental. Resulta-se, então, disso, que, seja qual for o espelho, a imagem (desejos e escolhas) refletida receberá a interpretação que convém ao homoafetivo e concorde a seus interesses, nunca acorde com os ditames divinos.
Após a licenciosidade dessa ótica metafórica, cabe salientar que no suntuoso espelho do universo, a imagem que mais expressa e fideliza as verdades do Criador, é naturalmente a que provoca menos distorções de foco ou do sentido de suas diretrizes. Menoscabar as uniões sexuais heteroafetivas é, na minha visão, uma dessas distorções. Ela cerceia, por exemplo, o direito de um Espírito reencarnar na Terra. Ora, à primeira vista, se não há relação sexual fecunda, não haverá, em sua substituição, outro meio ou processo similar à fecundação que possibilite o ingresso de novos Espíritos na Terra. Esse viés afetivo representa, também, ato de indisciplina para com a vontade do Criador, afinal, quando Ele estabeleceu que as relações afetivas que envolvem sexo, no estágio evolutivo da Terra, devem circunscrever-se à heteroafetividade, razões Ele tinha para que fosse assim, não de outra forma.  Quis Ele que ao vivenciarmos as peculiaridades de cada gênero humano, nós, Espírito imortal que somos, desenvolvêssemos nosso intelecto e nossa moral de maneira singular à que é feita no mundo espiritual.
Por isso, com o fim de auxiliar o indivíduo homoafetivo na busca da interpretação mais precisa da imagem que melhor planifica seu destino, atento à “responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam,[3] é que o conclamo a auscultar o que à sua volta reclama razão, a sondar o que sobre si, do alto, esbanja sabedoria à imensidão, para içá-lo do físico ao metafísico e, num lampejo introspectivo, perquirir, per se, se prospera superestimar os valores empíricos da vida tangível, ignorando os valores inatos da vida espiritual, só porque os daquela é de fácil constatação pelos órgãos dos sentidos, enquanto os desta se captam pelo sensório da alma.  É de bom alvitre sopesar tal postura em face da ideia da livre expressão sexual (nos moldes legalizados), indagando:
Quem de nós, na atualidade de nossos conhecimentos incompletos, conseguirá deitar sabedoria, no campo da inteligência, tão só pelo testemunho das impressões pessoais? [...] De que maneira dogmatizar afirmativas sobre causas, processos, acrisolamento e finalidade de nossa existência terrestre pelos acanhados recursos dos sentidos comuns?[4]
Sem uma reflexão metafísica do assunto, pode-se incorrer no erro de aplicar ao caso visão estreita e hedonista. Essa reflexão de superfície é característica do ensino dos pais e das escolas de hoje, que preparam suas crianças para a aquisição de conhecimentos, descuidando do refino dos seus sentimentos. Crescendo e vivendo sob educação desprovida de lastro moral e da acuidade ética, não é difícil prever que o comportamento da criança até a fase adulta será pobre de virtudes, conforme se deduz da análise de Leon Denis:
Embora o Espírito, naturalmente de natureza assexuada, não veja sentido em se expressar no mundo espiritual com preferência nesse ou naquele gênero, é bom frisar que, exclusivamente na Terra, em face do baixo nível moral dos Espíritos que o habitam, a psicologia assexuada não é base estanque para sustentar as relações homoafetivas. O que deve ser levado em conta são as disciplinas inerentes ao plano evolutivo traçado por Deus para cada grupo de Espíritos nos diversos globos do universo. No caso específico dos Espíritos que habitam o planeta Terra, classificado como de provas e expiação, há de considerar que eles ainda não estão capacitados para nutrir elevados sentimentos de liberdade, de justiça e de amor. Se estivessem preparados, suas relações afetivas, homossexuais ou heterossexuais, seriam vividas naturalmente sem que isso penalizasse o fluxo de Espíritos do mundo espiritual para este planeta, nem arranhasse a conduta moral compatível com o modelo pregado por Jesus. A rigor, se estivessem nesse nível evolutivo, já possuiriam corpos com estrutura compatível com a elevação de seus sentimentos. Inexistindo atualmente esse modelo, certo é que a relação que se comenta se configura como insubmissão ao plano e à vontade divina, afinal, as relações homoafetivas se arvoram a pular uma etapa de aprendizagem somente proporcionada integralmente pela relação heteroafetiva. Há de convir que nós, em se tratando de Espíritos ainda falíveis no seu modo de pensar e vacilantes no seu modo de sentir, podemos prever, a partir da legalização desse novo modelo de família, que essa medida paliativa pode agravar a situação evolutiva de quem o vivencia:
As uniões sexuais, portanto, que se efetuem à distância desses sublimes imperativos, transformam-se em causas geradoras de sofrimento e perturbação. Ao demais, não devemos esquecer que o sexo, na existência humana, pode ser um dos instrumentos do amor, sem que o amor seja o sexo. Por isso mesmo, os homens e as mulheres, cuja alma se vai libertando dos cativeiros da forma física, escapam, gradativamente, do império absoluto das sensações carnais. Para eles, a união sexual orgânica vai deixando de ser uma imposição, porque aprendem a trocar os valores divinos da alma, entre si, alimentando-se reciprocamente, através de permutas magnéticas, não menos valiosas para os setores da Criação Infinita, gerando realizações espirituais para a eternidade gloriosa, sem qualquer exigência dos atritos celulares. Para esse gênero de criaturas, a união reconfortadora e sublime não se acha circunscrita à emotividade de alguns minutos, mas constitui a integração de alma com alma, através da vida inteira, no campo da Espiritualidade Superior. Diante dos fenômenos da presença física, bastam-lhes, na maioria das vezes, o olhar, a palavra, o simples gesto de carinho e compreensão, para que recebam o magnetismo criador do coração amado, impregnando-se de força e estimulo para as mais difíceis edificações.[6]
Supondo haver situação, mesmo que fortuita, em que um indivíduo tenha adotado comportamento homossexual, sem que esse modo de ser tenha raízes num passado que transferiu para a posteridade as consequências da malversação do sexo, então, de maneira otimista, inspirado no fato de que estamos vivendo momentos de grandes mudanças na estrutura da matéria e na psicologia do Espírito, em função da transição planetária que objetiva promover a Terra do seu estágio de provas e expiação para o de regeneração, podemos inferir desse tipo de ‘homossexualidade’ que ela seja reflexo das vibrações trazidas pelos Espíritos mais evoluídos remanejados de planetas superiores.  Dotados, assim, de elevado sentimento de irmandade celeste, podem influenciar alguns indivíduos a nutrir comportamento de expressiva fraternidade. Com isso, na ausência da correta interpretação dos sentimentos a que se acham tomados, adotam equivocadamente trejeitos similares ao comportamento homossexual, sem que de fato sejam homossexuais.
Falando em equívocos, importante ressaltar que o conhecimento e a prudência são indispensáveis à boa interpretação dos nossos sentidos e de nossa vida, portanto, faz-se oportuno tecer breve comentário sobre o termo seresempregado por Alan Kardec, na questão 695 do Livro dos Espíritos [7]. O referido termo, cunhado na expressão “união permanente de dois seres”, foi utilizado por ele como assessório à palavra casamento, não como termo que ensaia chancela a homoafetividade, como alguns pensam. Kardec não o utilizou em sentido metafísico, significando elo fraternal mantido entre Espíritos.  Aludia, sem dúvida, ao casamento, união apropriada à Terra, naturalmente formalizada entre dois seres: o homem e a mulher.
Supondo-se que essa interpretação intencione combater a intolerância e exalçar a indulgência para com os nossos irmãos homoafetivos que enfrentam os mais exacerbados preconceitos, por ainda não terem se desvencilhado das sensações que os dominam e os afastam de suas missões originais, não me parece que o melhor caminho para o exercício da verdade e da caridade seja distorcer o sentido de um termo com o propósito de induzir neófitos espiritualistas a pensarem que essa acepção foi chancela subliminar às relações homoafetivas.
A resposta do Espírito de Verdade à questão nº 695, quando indagado se seria “contrário à lei da Natureza o casamento, isto é, a união permanente de dois seres?”, foi clara, objetiva e contundente: “É um progresso na marcha da Humanidade”. Ora, não há humanidade no mundo espiritual, só existe no mundo físico: o planeta Terra.
Tal é a certeza de que o termo referia-se a homens e mulheres, que um século depois, o Espírito Emmanuel, sintônico com as diretrizes dos Arautos Celestes, ao discorrer sobre a mesma questão do Livro dos Espíritos, extirpou qualquer dúvida sobre o claro sentido empregado ao termo ‘seres’, afirmando que (grifei):
O casamento ou a união permanente de dois seres, como é óbvio, implica o regime de vivência pelo qual duas criaturas se confiam uma à outra, no campo da assistência mútua. Essa união reflete as Leis Divinas que permitem seja dado um esposo para uma esposa, um companheiro para uma companheira, um coração para outro coração ou vice-versa, na criação e desenvolvimento de valores para a vida.[8]  
Em seguida, explica que esse progresso alcançado pela humanidade, por meio do casamento, representa grande conquista do Espírito que vive atualmente no planeta, no entanto, na Terra do futuro, naturalmente ainda física, mas habitada por Espíritos regenerados, as relações sociais serão alicerçadas por sentimentos mais nobres, ensaiando  relação afetiva que mais se aproxima à que é vivida por seres de esferas superiores (grifei):
Indiscutivelmente, nos Planos Superiores, o liame entre dois seres é espontâneo, composto em vínculos de afinidade inelutável. Na Terra do futuro, as ligações afetivas obedecerão a idêntico princípio e, por antecipação, milhares de criaturas já desfrutam no próprio estágio da encarnação dessas uniões ideais, em que se jungem psiquicamente uma à outra, sem necessidade da permuta sexual, mais profundamente considerada, afim de se apoiarem mutuamente, na formação de obras preciosas, na esfera do espírito.[9]
Convêm lançar olhos com intenções de ver as verdades da vida, a fim de que cada um possa ler o que diz no seu íntimo, confronte com tudo que transcende (e não perece) para sondar se os sentimentos que lhe movem são eivados dos novos ingredientes de amor disseminados pelo mundo vindouro de regeneração ou se esses sentimentos são, ainda, os que o imantam ao solo das paixões terrenas como resultado do estágio espiritual em que se encontram.

A falibilidade das deliberações humanas
As constituições e os códigos disciplinadores de conduta dos indivíduos nos diversos países são periodicamente reformados à medida que ocorrem mudanças significativas no comportamento da sociedade. Quando o país é democrático de direito, não assiste razão para ignorar a existência desses comportamentos ou ignorar o exame e a conveniência de sua regulação normativa.
O movimento dos homossexuais defendeu a reforma do texto constitucional a respeito do conceito de família. Mesmo após a decisão favorável da suprema corte, é oportuno, a meu ver, refletir sobre as consequências advindas da inusitada entidade familiar, em face do legado que ela deixará às gerações futuras. Nada obstante os abalos provocados na sociedade com o reconhecimento legal desse tipo de união afetiva, sabemos que assim caminha a humanidade, evoluindo entre erros e acertos. O tempo evidenciará, em retrospectiva, qual teria sido a melhor solução para o assunto.  Enquanto isso, consola-nos a ideia de que o progresso dos seres fatalmente ajustará as coisas, dado que reverses desse jaez estão previstos no planejamento divino como eventos suscetíveis das ações do Espírito humanizado imperfeito, que promove seu progresso servindo-se dos recursos compatíveis com o seu nível evolutivo ou fazendo escolhas sem a devida reflexão de suas consequências no porvir.
Alan Kardec, ao tratar do progresso das civilizações, chamou atenção para os riscos de escolhas que a sociedade faz sem suficiente maturidade:
A civilização criou necessidades novas para o homem, necessidades relativas à posição social que ele ocupe. Tem-se então que regular, por meio de leis humanas, os direitos e deveres dessa posição. Mas, influenciado pelas suas paixões, ele não raro há criado direitos e deveres imaginários, que a lei natural condena e que os povos riscam de seus códigos à medida que progridem. A lei natural é imutável e a mesma para todos; a lei humana é variável e progressiva.[10]
Pietro Ubaldi, numa referência à compaixão que os avatares da instrução sentem pelos que se demoram na faixa da ignorância, justifica que tais desacertos, em meio às verdades universais, são temporários e corrigidos por mecanismos naturais e automáticos ao longo da vida:
Não há dúvida de que, para quem alcançou uma compreensão mais vasta, é um sofrimento ver a inteligência, centelha de Deus, corromper-se em astúcias e enganos. Mas o baixo uso dela se justifica, como sendo um meio para chegar a compreender a inferioridade desses métodos e, assim, superá-los e abandoná-los.[11]
Assim, influenciado pelo véu que oculta os erros de direção cometidos no passado e incapaz ainda de resistir aos ideais menos dignos que afloram na sua mente, o Espírito que reencarna na Terra quase sempre procura criar sofismas para manter a prevalência dos seus interesses imediatos, numa prova irrefutável de quão vulnerável é seu pensamento e quão transitórias são suas deliberações. Nesse sentido, nunca é demais ilustrar os vacilos de que são capazes alguns indivíduos que, mesmo distanciados um pouco da faixa da ignorância intelectual, veem-se embaraçados diante da necessidade de promover o equilíbrio entre o seu senso intelectual e o moral, como foi o caso que deu origem a esse ensaio: o reconhecimento da união homoafetiva, chancelada pelos árbitros da suprema corte do país.  Por isso, nessa linha, julgo oportuno fazer breve relato de três casos reais que, a meu ver, espelham bem o terreno movediço sobre a qual alguns Espíritos humanizados sustentam seus juízos.
O primeiro caso nos faz refletir sobre a pseudoerudição de indivíduo que o leva a construir um sofisma justamente pela falta de harmonia do seu intelecto com a moral. Não raro, é devido a mentes envaidecidas pela aquisição de vasto conhecimento, sem baliza moral, à custa de paixões desarrazoadas, que a História das Civilizações amarga retrocessos. Não que a paixão seja de todo negativa.  Até certo ponto, ela cumpre seu papel enquanto motor que impulsiona ao progresso, pois é a partir dela que a crítica, filha primeira da razão, lhe recepciona. Se, numa conjunção equilibrada, paixão e razão são operárias da mente na edificação da vida, parece que a loucura é o vácuo que denuncia a ausência de equilíbrio. No campo do raciocínio, existem os que temporariamente são acometidos por esse breu neurótico, e é justamente nesse intervalo obscuro que suas criações fogem dos padrões aceitáveis de normalidade.
O protagonista desse primeiro caso, insigne ministro do Supremo Tribunal Federal, togado nos idos de 1894, é indivíduo de inteligência dilatada, mas assentada sobre estofo moral duvidoso que afirmou, na obra “O Julgamento de Pilatos ou Jesus Cristo Perante a Razão e os Evangelhos”, que Jesus sofria de loucura. Exegeta, político, hábil na articulação das ideias e das palavras, valeu-se de sua eloquência para ornar os devaneios de sua mente e, quiçá, embalar, na gangorra da dúvida, alguma leva de gente. Ao expressar seu pensamento, numa obra paradoxal e surreal, discorrendo sobre o mérito da sentença de Pilatos imposta ao enviado de Deus, entendia que a loucura de Jesus vicejou a paixão dos seus seguidores – com fulcro na razão especulativa – e que a razão (prática), no pensamento do jurisconsulto, deu causa de sua condenação por Pilatos.  Sabemos que essa visão tresloucada não traduz a realidade dos fatos ou da personalidade de Jesus. Na análise do autor, o emprego da razão e da paixão se reveza de maneira astuta, ambas em sentido pejorativo ou qualitativo, a depender do enfoque ou do seu interesse. Ele, que atribui à loucura o sucesso de Jesus e à razão o teor analítico e profundo do seu livro, se empenha, como se depreende de pequeno trecho retirado de sua obra e transcrito abaixo, em revelar as nuances das palavras razão, paixão e loucura, apenas para, num viés malicioso, acomodá-las à sua interpretação, dar às suas palavras ares de verdade e, assim, justificar a tese de que Jesus era acometido de loucura:
[...] não é à razão, mas sim à paixão, e até mesmo à própria loucura, que na realidade ou principalmente nós devemos quase todos os progressos que a civilização tem feito [...] Com isto não pretendo dizer que é inteiramente nulo o papel que à razão vem a caber na marcha da civilização. Pelo contrário, é imenso esse papel, mas, para bem compreendê-lo, é preciso que se faça uma distinção muito importante entre a razão especulativa, que anda por assim dizer aos saltos, ou que, assim como o relâmpago, fugaz ilumina, deslumbra e passa, e a razão prática ou o bom senso, que anda sempre compassadamente, ou que assim como um pequeno farol, nos esclarece o caminho com mais ou menos segurança.[12]
O enunciado convence se aplicado de modo genérico, mas, no caso concreto, o jurisconsulto, ao escrevê-lo, o fez com propósito não muito digno, qual seja, o de estabelecer uma ligação estreita entre os sintomas da loucura e os atos da vida do Mestre. Movido por moral insípida e presunção de intelectualidade inatacável, não percebeu, na sua insensatez, que a verdade não é a medida do seu alcance, mas o alcance da exata medida, a qual virá somente com a perfeição. Daí a falibilidade do seu propósito, pois ao chamar a atenção para o que ele considera como razão especulativa (dos cristãos) e razão prática (a dele), na realidade, a paixão foi como comburente da sua análise, uma vez que o bom senso nela se fez ausente e até convencerá o incauto, possivelmente.
Espiando de relance sua autobiografia[13], a fé fragilizada, aliada a revezes que vivenciou  na área política, pode explicar em parte o motivo de sua racionalidade mordaz, pois declarava o jurisconsulto, antes de escrever a obra, que sua índole era essencialmente religiosa e que desde muito criança nunca passou uma só noite sem que antes de deitar-se não se recomendasse a Deus e que, cheio do maior ardor, não lhe dirigisse grande número de orações, no entanto, tendo se agastado por questiúnculas, sentiu germinar a pouco e pouco no seu coração a semente da dúvida.  Resolveu, em meio ao vazio que lhe carcomia, escrever algumas ‘variações’ ou delas extrair assunto qualquer, e entre tantas ideias surgidas, cada uma se corporificava como disparates. Então, como ele próprio sentenciou: “quem se afoga a tudo se agarra”, resolveu ligar todas em uma só, recebendo dele o aplauso como a melhor ideia aceita: a loucura de Jesus.  Nasceu assim, nessa atmosfera vã ou nesse vacilo, obra que é o substrato da ingratidão àquele que veio ao nosso mundo para auxiliar-nos a filtrar as vis paixões de nossos sentimentos e iluminar nossas mentes com sua moral e inteligência altruísta.
O Espírito humanizado (encarnado), inexpressivo pela sua palidez moral e pretensamente assaz pela sua inteligência, utiliza sua astúcia na defesa de sua vontade e não mede esforço para que seu intento prevaleça a todo custo. Progride sempre, porém, na qualidade de imperfeito, esquece que esse progresso é espiralado, falível e volátil. Nesse contexto em que se chama atenção para as falibilidades humanas, afirmo ser plausível, no atual estágio evolutivo do ser na Terra, a prematuridade em reconhecer a união homoafetiva, posto que ela foi decidida por intelectuais falíveis no campo moral.
Merecer mundos melhores requer do criado o cumprimento às leis naturais do Criador. Se não estamos respeitando a conduta apropriada ao mundo em que vivemos, com que direito nos candidatamos a merecer mundos mais evoluídos, portanto mais felizes, se renegamos a disciplina? Como legitimar ou brindar a conquista de um direito na Terra, se esse mesmo direito é o que nega dever estabelecido pelo Legislador infalível: o de considerar as relações heteroafetivas como o mais adequado processo de aprendizagem do Espírito humanizado, vez que lhe garante o conhecimento inerente a cada gênero: vivido exclusivamente, um de cada vez, coadjuvado pelas relações afetivas do gênero oposto.  Leon Denis, sob os eflúvios de uma consciência de mais larga compreensão da vida nos dois mundos, nos alerta acerca da obediência aos preceitos divinos estabelecidos:
O Positivismo está na impossibilidade de fornecer à consciência uma base moral. Neste mundo, o homem não tem só direitos a exercer, tem também deveres a cumprir; é a condição iniludível de qualquer ordem social. Mas, para preencher os deveres, cumpre conhecê-los; e, como possuir esses conhecimentos sem indagar-se o alvo da vida, das origens e dos fins do ser? [...] Com o estudo atento e minucioso da matéria, as escolas positivistas contribuíram para enriquecer certos ramos de conhecimentos humanos, mas perderam de vista o conjunto das coisas e as leis superiores do Universo. Encerrando-se no seu domínio exclusivo, imitaram o mineiro que se aprofunda mais e mais nas entranhas da terra, que aí descobre tesouros ocultos, mas que, ao mesmo tempo, perde de vista o grande espetáculo da Natureza que se mostra imponente sob os raios do Sol.[14]
O segundo caso a ser perfilhado, diz respeito a indivíduo que se esmerou em construir sofisma para justificar seu apoio ao reconhecimento da união homoafetiva, mas, pela inconsistência do seu fundamento, ele próprio percebera com o tempo, antes mesmo da decisão do STF, que havia tomado direção equivocada. Essa mudança de postura é apanágio do homem imperfeito que se norteia pela imperfeição de suas leis, afinal,
toda lei é obra humana e aplicada por homem; portanto, imperfeita na forma e no fundo, e dará duvidosos resultados práticos, se não verificarem, com esmero, o sentido e o alcance das suas prescrições. [15]
Então, como eu já havia dito, vem aí com intermitência em nossa mente a questão do alcance, enfatizando que a verdade não é a medida do alcance do indivíduo, mas o alcance da perfeita medida das coisas. O fato é que, após vários anos de estudos e pesquisas sobre a homossexualidade, o protagonista desse segundo caso, fechado em sua convicção de que o homossexual deveria ser livre para unir-se com a pessoa amada e de que as uniões homoafetivas deveriam ser reconhecidas juridicamente, apoiou-se numa vasta bibliografia jurídica e nas lições de estudiosos das mais diversas áreas para embasar seus argumentos. Inclusive, valeu-se de trechos cânones da Bíblia para afirmar que até do ponto de vista das Escrituras sua tese tinha respaldo. Apesar desse árduo trabalho, do qual, segundo ele, recebeu elogios de juristas respeitáveis, transcorrido não menos de um ano após a conclusão do seu sofisma, reescrevera sua tese, pregando, agora, o oposto do que ele dissera antes, apresentando interpretação reformada do caso, utilizando a mesma referência bibliográfica, a fim de restabelecer a verdade, na tentativa de desfazer o equívoco que cometera no passado, conforme explicou-se, com firme arrependimento:
Assim como o apóstolo Paulo, o qual após uma vida de perseguição aos cristãos passou a proferir a crença que antes combatia abertamente, o autor, como fruto de uma profunda transformação sofrida por uma real experiência vivida com Deus, sentiu a necessidade de rever seu posicionamento jurídico a respeito do assunto. Desta forma, não negando que anteriormente era um dos mais ferrenhos defensores da união homoafetiva, e sem se esquecer dos argumentos jurídicos tão concisos e verdadeiros que trouxe para defender sua posição, o autor irá demonstrar, com argumentos bíblicos e também jurídicos, que seu anterior posicionamento, além de não condizer com as verdades sagradas descritas na Bíblia, também podem ser afastados através de argumentos jurídicos. [16]
Donde então irrompeu-se a magia do reverso? Do bom senso e da fé, explicou-se. E também da lógica jusnaturalista, presumo. Contradizendo posição anterior, combinando fé e razão, agora ele divisa novo cenário para a questão da homossexualidade. Se as normas por ele consultadas não foram o motivo de sua reforma, conclui-se que a mudança de sua ótica operou-se no campo metafísico do seu entendimento, propiciando-lhe interpretação diversa daquela feita anteriormente sobre o mesmo assunto e servindo-se da mesma bibliografia. Vale citar, em socorro a esse cenário de aparente paradoxo, o que veio a deduzir Gusmão, em sua obra, que o grande jurisconsulto Paulo de Tarso, talvez compreendendo a particularidade do direito, sustentava que “o permitido pelo direito nem sempre está de acordo com a moral.[17]
O terceiro e último caso continua a enfatizar que a vulnerabilidade do pensamento humano também incide nas faixas mais esclarecidas dos Homens quando, diante de questões de maior vulto e de maior complexidade, se propõem a resolvê-la. Então, é digno de nota o julgamento histórico do Supremo Tribunal Federal que decidiu, por unanimidade, que as relações homoafetivas são consideradas união estável, como estáveis são as uniões heteroafetivas, equivalendo-se, então, a entidade familiar, tal como a constituída por um homem e uma mulher.
Apesar da unanimidade dos 11 ministros do STF na decisão do caso vertente, nutro a firme crença de que ela é fruto do exercício do livre arbítrio, facultado pelo Magnânimo, mas que naturalmente se ajustará, com o tempo, às prescrições divinas. A infalibilidade dos desígnios de Deus me permite parafrasear um conhecido jargão: Deus escreve sempre certo, nós é que entortamos as linhas e as letras, daí a imprecisão da leitura e da interpretação que às vezes se faz do texto da vida.  Essa imprecisão parece refletir-se na estranha interpretação que os ministros da suprema corte fizeram do dispositivo constitucional, pois, apesar de o texto estabelecer claramente que “para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher, como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” [18], posso arriscar uma dedução – inspirado no pensamento de alguns críticos procedimentalistas – que eles desviaram da letra, extrapolaram os limites da interpretação e criaram direito para além das palavras do texto da carta magna, numa clara invasão da função privativa do legislador. Deduz-se que os ministros, motivados talvez pela pressão de um ativismo social, praticaram um ativismo judicial para que a aplicação do texto não conduzisse a resultados ‘injustos’ para a minoria em questão.
Rachel Nigro não concorda com a integridade desse pensamento.  Em seu artigo ela refuta que os ministros do STF, no julgamento em relevo, tenham atuado como ativistas judiciais, porém, acredita que se atuaram dessa forma, considera que sua decisão é exemplo paradigmático de “ativismo judicial legítimo” (grifei):
Os argumentos acima, segundo a especialista em filosofia do direito, são mais bem-compreendidos a partir da visão pragmática da filosofia da linguagem, que permite extrair as razões não estritamente jurídicas que devem ser consideradas para demarcar os limites de interpretação e da jurisdição constitucional.  Em que pese minha ignorância, penso que essa e outras fontes de justificativas são de fato licenciosidades inesgotáveis para a sede de argumentos dos intérpretes.  Em toda norma feita pelo homem, essa fonte jorra com intensidade proporcional à sede de clareza de seu enunciado ou à obstinação da defesa de seu interesse.  E nossa Constituição, conforme ilumina Rachel Nigro, no que tange a essa fonte, no campo dos direitos humanos, não é menos fértil:
Bem se vê, pelo encarrilhado até agora, que a exegese e a hermenêutica funcionam, às vezes, como licenciosidades que dão asas ao raciocínio jurídico no sentido de libertá-lo, no caso concreto, das amarras que o prendem ao comando original da norma. No estágio evolutivo em que o homem ainda se encontra, o livre-arbítrio é uma faculdade que amplia sua visão e sem ela seria impossível evoluir moral e intelectualmente. No entanto, quando malversada essa faculdade e desvinculada de um senso real de justiça divina, pode produzir atos apoiados em argumentos duvidosos, como se verifica na decisão do STF, relativa à união homoafetiva, na qual, a CF de 88, considerada a guardiã dos direitos e inviolável nos seus preceitos, foi frontalmente desrespeitada, porquanto, a partir do seu enunciado, criaram outro, exprimindo mensagem diversa daquela proposta pelo constituinte.
Importante destacar que, em análise de questão de grande importância axiológica para a sociedade, como a de que agora me ocupo, há que se levar em conta os verdadeiros valores da vida, que são aqueles que, transcendendo o espaço e o tempo dos mortais, novamente se encontram numa outra dimensão, com pesos e medidas inalterados. Nesse ponto, o livre-arbítrio revela a intenção de Deus em dotar o homem de faculdade de livre expressão, no entanto, dada nossa imperfeição, essa liberdade é, repito, no estágio em que vivemos, vigiada e limitada.  À medida que progredimos de forma equilibrada, na moral e no intelecto, essa liberdade é ampliada e passamos a conquistar mais autonomia quanto à utilização do livre-arbítrio. Por isso, devemos não perder de vista que a utilização dessa faculdade deve ser feita de modo responsável, disciplinada e atrelada a um senso de justiça imorredouro.
Na esteira das missões de cada um, o jurista exerce grande responsabilidade quando se propõe a clarear a consciência dos indivíduos ante os escuros das letras que se inscrevem no caminho. Em face disso, eu não poderia encerrar essa parte da minha análise, quando procuro chamar a atenção para a falibilidade das decisões humanas (no tocante à prematuridade do propalado reconhecimento da união homoafetiva) e enaltecer a infalibilidade dos desígnios divinos, sem apresentar, abaixo (trecho longo, mas necessário), a sensata lição de Manuel Segura Ortega, citado por Mártires Coelho, quando prega a importância do arbítrio judicioso, porém, não abusivo, sem esquivar-se de elencar as razões dos opositores (grifei):

A infalibilidade dos desígnios de Deus
Ao se falar em ótica divina ou quando aduzimos nossas ações a conduta pautada nos preceitos divinos, revelamos, de modo involuntário e quase imperceptível, que nossa própria consciência reclama a existência e a submissão a um ser que nos seja superior em tudo.  O que nos mantém imersos nessa crença advém do fascínio – irresistível e inegável - que a colossal estrutura do universo nos causa. A harmonia do conjunto, produzindo efeitos que influem útil e inteligentemente em tudo que fazemos, é obra natural que denuncia a existência do seu autor, irisa e seduz nossa alma com tal força e magia, que não há neste mundo ninguém que sustenha seu encanto e duvide da magnitude de quem é causa desse poder deslumbrante. Então, é a partir dessa panorâmica, contagiado em verve indecifrável, na proporção de cada senso, que emerge em nós o sutil desejo de reverenciar o Maestro desse grande concerto.
Com essa visão clara e segura, que nos guia sem medo e nos afasta da via escura, a vida prossegue amparada na alta definição das lentes de Deus. Onisciente e onipresente, o Arquiteto do nosso e de tantos outros mundos, com a maestria de quem compõe o mais perfeito dos arranjos, faz de nós como que um de seus instrumentos, a produzir acordes com a natureza e a entoar cânticos de beleza, evolução e harmonia.  Certos, assim, do seu amor e do seu auxílio, fácil valorar nosso presente com a certeza dos benefícios no futuro.
A questão é que alguns ainda distam dessa certeza, por acanhado raciocínio, ingratidão ou teimosia. Mentes há que duvidam e não se dobram ante a verdade que se desdobra em incomensuráveis lições no grande livro da Natureza. Leibniz, em suas inquirições, nos dá ideia disso quando discorre sobre os questionamentos acerca da causa que deu origem à existência das coisas:
[...] importa agora elevar-se à metafísica, recorrendo ao grande princípio, comumente pouco usado, o qual afirma que nada se faz sem razão suficiente; isto é, que nada sucede sem que seja possível àquele que conhece assaz as coisas fornecer uma razão suficiente para determinar porque é assim, e não de outro modo. Posto este princípio, a primeira questão que se tem direito a fazer será: porque há alguma coisa em vez do nada? Afinal, o nada é mais simples e mais fácil do que alguma coisa. [...] É necessário, assim, que a razão suficiente, a qual não carece de qualquer outra razão, resida fora da série das coisas contingentes e se encontre numa substância que dela seja a causa, e que seja um Ser necessário, possuindo em si a razão da sua existência; de outro modo, não se teria ainda uma razão suficiente onde se pudesse parar. E esta razão derradeira das coisas chama-se Deus.[22]
Não comporta no meu entendimento a ideia da funcionalidade e equilíbrio do cosmos e de tudo que nele pulsa, sem admitir a existência de direção superior no comando. Com isso, ancorado na certeza inabalável de que Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas[23], que estabeleceu os códigos soberanos para manutenção e coexistência harmônica entre a vida física e a extrafísica, rogo aos que ainda negam essa direção, que atribuem tudo ao acaso e a uma força cega, elevarem-se um pouco além da superfície de suas concepções e enlevarem-se pelo testemunho de uma das grandes vozes da sabedoria, quando nos conclama a ver com olhos de ver, a benfeitora utilidade das coisas e dos seres, o encadeamento perfeito das ações e das reações, do primeiro ao seguido ato, numa equalização perfeita:
Será possível que o vosso critério filosófico possa tomar a sério a hipótese ridiculamente metafísica da pré-existência de uma ordem universal, sem que houvesse um pensamento para concebê-la, uma inteligência para compreendê-la, um olhar para contemplá-la e uma alma para amá-la? Pois quê! Será essa Natureza, assim cega, inconsciente, escravizada, sem olhos de ver nem coração de amar, que vai, num silêncio eterno, tecendo a malha divina de tudo o que existe? Temo-la então, a cega Natureza originando sem o querer, nem saber, uma harmonia, até que finalmente, da base ao cimo do cosmos, como filho da cega fatalidade, surja o homem para ouvir a harmonia que não fêz, e tomar conhecimento dessa ordem que não procede dele, porque lhe precede! [24]
Quando olhamos à nossa volta e analisamos os fatos, sondando os sistemas dos micros em sintonia com o dos macros, percebemos que nada vive a esmo, pois tudo obedece a um comando inteligente. Visto isso, em que bases negar a prodigiosa Lei Natural, se a falibilidade de nossos sistemas ao cadafalso nos leva e nos condena? Como insistir em negá-la assim, se a infalibilidade dos desígnios de Deus agiganta sua Lei e o nosso frágil argumento nos apequena? Insurgir-se contra o Criador e insistir em tal propositura é padecer num ridículo que só a imaturidade e o orgulho podem conceber.
Quando numa incursão meticulosa avançamos na particularidade de um microrganismo, descobrimos nele outros mundículos, a partir dos quais nossa visão limitada nada mais registra. Transpassando a massa do primeiro, sem tê-lo de todo conhecido, deparamo-nos com a massa de outro microrganismo e assim por diante. Em sentido oposto, quando avançamos em excursão pela vastidão do macrocosmo, após percorrer a maior distância possível, deparamo-nos, por exemplo, com a exuberante estrela VY Canis Majoris, 50 vezes maior que o Sol, comparado à qual nosso astro rei parece um grão de areia.  E aqui estamos nós, na Terra, iluminados por ele, mas iludidos pela vaidade do que já sabemos, esquecendo, vesgos pelo nosso orgulho, de quantas dízimas tem a fração da parte que representa nossa massa, comparado a esse mesmo grão, o astro rei.
Apesar desse estupendo aparato sideral, cercados por esse turbilhão incognoscível de seres e de coisas, alguns ainda insistem em não reconhecer Deus como sendo o artesão de tudo e transgridem suas Leis, para que elas se conformem aos interesses imediatos, quando deviam, isto, sim, insistir em conhecê-las melhor, entender a mecânica de suas ações e a utilidade providencial de suas reações, para em seguida, inspirados na infalibilidade delas, aperfeiçoarem nossas leis, em razão de ainda vivermos a infância do intelecto e da moral e carecermos do auxílio do Criador para guiar-nos durante o desenvolvimento de nossas faculdades. Leon Denis, fascinado pela exuberância da Natureza e cônscio da infalibilidade dos desígnios de Deus, sentencia:
A ordem universal reinante na Natureza, a inteligência revelada na construção dos seres, a sabedoria espelhada em todo o conjunto, qual uma aurora luminosa e, sobretudo, a universidade do plano geral regida pela harmoniosa lei da perfectibilidade constante, apresenta-nos, já agora, a onipotência divina como sustentáculo invisível da Natureza, lei organizadora, força essencial, da qual derivam todas as forças físicas, como outras tantas manifestações particulares, suas. Podemos, assim, encarar Deus como um pensamento imanente, residente inatacável na essência mesma das coisas, sustentando e organizando, ele mesmo, as mais humildes criaturas, tanto quanto os mais vastos sistemas solares, de vez que as leis da Natureza não mais seriam concebíveis fora desse pensamento, antes são dele eterna expressão. Esta convicção, adquirimo-la no exame e análise dos fenômenos da Natureza.[25]
Cumpre aqui anotar que a breve alusão ao microcosmo e ao macrocosmo intencionou, é evidente, apenas extrair desses dois organismos complexos a visão essencial do que necessito para medir nosso valor e nossa posição em relação ao universo. Portanto, do que foi dito, o essencial é que fique patente o esplendor do universo como prova cabal da autoridade, da influência e da arte do Criador sobre nossas vidas, para que não tenhamos dúvidas de que nosso estágio evolutivo nos coloca muito distantes da capacidade de alterar Seu plano, no que se refere à missão do Espírito na Terra, na condição de homem e de mulher, e não nos credencia a estabelecer relações afetivas que nossa índole moral ainda não nos capacita.
Importante lembrar que fomos criados à imagem de Deus, não no sentido material, uma vez que não se pode conceber a imagem do inimaginável, mas, isto sim, no sentido intencional de sua expressão superior, consignada no bem e na justiça e no amor.  Por isso, é mais adequado e preciso afirmar que fomos criados à sua semelhança, vez que os atributos da criação jamais se confundem com os do Criador.  Este é perfeito, aquele, perfectível. Em sendo atributo do homem a perfectibilidade, é seu dever assumir, enquanto não estiver de posse de todo o conhecimento moral e intelectual, que é passível de falência em suas deliberações.
Infelizmente, a mais alta corte de justiça do nosso país, o STF, contrariando sua missão institucional, não resistiu a essa pecha, quando deliberou que as relações homoafetivas (união entre indivíduos de mesmo sexo), para efeitos de proteção do Estado, são equiparadas às relações heteroafetivas (união entre indivíduos de sexos opostos), numa grave afronta, não somente aos preceitos da Constituição, que elegera claramente o homem e a mulher como sendo constituintes da união familiar estável, mas também uma afronta à Lei Natural instituída por Deus.
Alinhado à indelével assertiva de que o homem é perfectível, logo passível de falências em suas deliberações e de que Deus é perfeito, portanto, infalível nos seus preceitos, afirmo que é nosso dever cumprir com o nosso papel de aprendizes e ouvir as sábias vozes dos céus que, condoídas pelo nosso estágio espiritual, vêm em nosso auxílio, na Terra, com o fim de nos sensibilizar quanto à manutenção dos valores reais da vida nos dois planos - o físico e o extrafísico. Os Espíritos superiores, que são as vozes do céu, abdicando do paraíso que conquistaram, vêm até nós, servindo-se dos médiuns, convencer-nos de que nossa conduta deve ter caráter universal, experientes e convictos de que essa não é nossa única existência neste mundo e de que ela deve cingir-se da mais sublime missão: desenvolver nossas faculdades latentes rumo à perfeição, rumo à felicidade inextinguível. Essa felicidade não é a imediata, nascida dos critérios temporários, mas é a que resiste às intemperanças da vida corpórea e subsiste na vida de além-matéria.

As duas faces da vida e suas vinculações
Quando se fala em vida, mais  que vivê-la, importa saber interpretá-la, perscrutar seu significado e sua utilidade no presente. Tão logo os refletores do palco terrestre tirem de cena o Espírito que anima o corpo, importa igualmente saber que desdobramentos sua vida terá além, pois, conforme adverte um Espírito de escol, “a existência humana é como precioso tecido de que os olhos mortais apenas enxergam o lado avesso[26].  Partindo desse aforismo, parece indispensável que se analise a questão homoafetiva na dimensão que ela exige, sob a lupa metafísica, pois, quando se fala em mudança de comportamento, seja individual ou coletiva, é razoável, senão prudente, que antes de sua adoção convém saber precisamente suas implicações em qualquer ambiente (físico ou extrafísico) em que transita o Espírito.
Sem considerar a sobrevivência do ser após a morte do corpo físico, a análise do assunto em destaque – as relações homoafetivas – perde o sentido, pois, se não houver nada após a morte biológica, a conduta é uma, se houver algo além, a conduta será outra.  Se nada houver do ‘outro lado’ desta vida, nada se fará aqui pensando na outra, daí, vale tudo na vida atual. Em contrário, se algo nos reserva ao descerrar-se o véu que oculta a vida que lateja em outra dimensão, a conduta de agora influenciará certamente a vida futura, seguindo-se daí o respeito aos bons regramentos, humanos ou divinos.
Pensar que não há vida do lado de ‘lá’, é admitir que Deus cria os Espíritos, os introduz no planeta Terra – sob as vestes de homem e de mulher – e, após longo tempo de pesado labor, tão logo cesse a vida celular de seus corpos, sejam eles extintos. Ou, em admitindo a sobrevivência deles e não sendo importante o modo como se comportaram, sejam igualmente purificados, dispensados da apreciação do mérito de suas ações, ignorando se foram ricos ou pobres, felizes ou sofredores, bons ou maus, laboriosos ou ociosos.  Atribuir tal juízo ao Magnânimo, é querer humanizá-lo, torná-lo imperfeito, logo, falível.  Se houver essa concepção mesquinha da figura de Deus, certo é que se fala de outro ser, não daquele que se expressa com infinita bondade, inabalável justiça e incomensurável amor à sua criação.
A condição de imperfeito e imortal, atribuída ao Espírito, o faz dependente de várias incursões nesta vida e desta para aquela, com o objetivo de continuar seu aprendizado até alcançar o mais alto grau de refinamento de suas faculdades morais e intelectuais. Disso, extrai-se que os valores intelectuais, morais e éticos, seguem-no. Fosse diferente, a cada renascimento ele teria que recomeçar tudo do zero, de nada adiantaria angariar conhecimentos nas escolas e inócuo seria educar os sentimentos nos templos religiosos.
Nessa linha de sucessórias vivências, urge que não desperdicemos tempo com adoção de comportamento que não esteja adequado ao que foi planificado por Deus. Fugir dos preceitos divinos equivale a somar infortúnios derivados da má arbitragem da liberdade que nos foi confiada.  Retornar ao ponto de onde se desviou do caminho é sempre complicado, demorado e doloroso. Isso porque uma única existência na Terra é período muito curto para alguém corrigir tantos erros, tantas mazelas, ou para alguém concluir grandes projetos ligados às diversas áreas do conhecimento humano.  Se somos iguais porque carregamos em nós os germens do intelecto e da moral, somos diferentes por não termos conseguido galgar, em face das diferentes escolhas ao longo da caminhada, os mesmos níveis de desenvolvimento simultaneamente.  É certo que “ninguém atingirá o porto da dignidade espontânea sem viajar, por longo tempo, nas correntes da vida, aprendendo a manejar o leme da disciplina.[27]
Somente à custa de muito tempo, trabalho e disciplina é que poderemos alcançar o grau de progresso a que chegou Sócrates, como expressão do intelecto, Madre Tereza de Calcutá, como expressão da moral, ou, correndo a escala de progresso a velocidade superior, apenas para espiar quem está quase em seu topo (pois no topo está Deus), chegaremos ao modelo mais exato da perfeição que é Jesus, íntegro em moral, intelectualidade e amor. Nunca é demais citar Albert Einstein e Adolf Hitler no que respeita a seus potenciais e às escolhas que fizeram. Apesar de ambos terem alcançado nível intelectual considerável, sabemos que apenas o primeiro direcionou os seus saberes em prol da humanidade, enquanto o segundo, em prejuízo dela. Considerando a continuidade da vida, cabe oportuna indagação: há justiça em que ambos, Einstein e Hitler, a considerar pelas escolhas que fizeram, sejam justapostos ao mesmo pedestal? Seria racional que, contrariando a lógica do modelo de progresso, justiça e amor ensinado pelo maior dos evangelistas, fosse atribuído às ações de ambos o mesmo valor dedicado à dos missionários que, ao longo de suas vidas, se dedicaram a promoção do bem comum? Seria cabível a arguição de que agora, tendo se extinguido a vida física, aquilatar valores na vida espiritual perdeu a importância, em face da singularidade de sua dimensão? Penso que seria mais condizente com a realidade admitir que, sendo o Espírito imortal e tendo ele sequência natural, cada um deles, Einstein e Hitler, recebam, eles próprios, os benefícios ou malefícios que suas obras podem proporcionar. Ou seja, dar a cada um segundo suas obras, o que é mais condizente com as Leis divinas.  André Luiz nos ensina que:
[...] quando se despedem do mundo, os homens, quaisquer que sejam, chegam aqui como são... Porque hajam desencarnado, o louco não adquire o juízo, de um dia para outro, nem o ignorante obtém a sabedoria por osmose. Depois da morte, somos o que fizemos de nós, na realidade interna [...][28]
Ante a eternidade do Espírito e a evidência da multiplicidade de suas existências, aliado ao fato de que as aquisições morais e intelectuais são suas joias inalienáveis, torna-se indispensável examinar a homossexualidade vinculada aos saberes ou pendores conquistados em vidas passadas pelo Espírito, a fim de melhor compreendermos e mitigarmos os conflitos gerados pela expressão da homossexualidade na sociedade e no seio da família. Num planeta habitado por seres imperfeitos, subverter os valores é a característica mais comum entre eles. Então, sendo todos nós componentes desse ambiente comum, convém lembrar que o evangelho de Jesus nos ensina que para transformar nosso mundo em ambiente mais evoluído, é imprescindível que transformemos primeiramente a nós próprios, amando e seguindo os nobres ditames de Deus, bem como amando nosso próximo, dedicando-lhe respeito, indulgência e auxílio contínuos, tal como se ele fosse nós próprios. Não é sem razão que os Espíritos superiores nos aconselham: “Amai-vos, eis o primeiro ensinamento.  Instruí-vos, eis o segundo.” [29] 

As duas faces do sexo e a universalidade das relações
Mantendo a linha de raciocínio desse ensaio, focada na análise transcendental do assunto, creio não ser relevante listar as gradações da homossexualidade catalogadas pela ciência, visto que suas definições estão difusas na literatura sexológica. Por essa razão, ater-me-ei a explicitar, isto sim, as causas dos desvios comportamentais que têm origem no sexo, para que o leitor delas extraia as deduções que julgar mais acordes com sua visão.
Convém apenas observar, antes de tudo, que a literatura convencional sobre o estudo do comportamento humano, em especial sobre a que se especializa no sexo, produzida pelos mais renomados estudiosos, demonstra sempre visão unilateral, portanto, incompleta, vez que suas análises se circunscrevem às relações afetivas vividas apenas neste mundo, sem estabelecer seu devido vínculo com as vidas antecessoras e sucessoras. Sobre a incompletude desses estudos, André Luiz ressalta:
Quanta riqueza psíquica, suscetível de conquista, se os pesquisadores conseguissem deslocar o centro de estudo, das ocorrências fisiológicas para o campo das verdades espirituais![30]
Ao referir-se, por exemplo, à grande contribuição de Freud à psicanálise, assim se manifestou:
[...] se a psicologia analítica de Freud e de seus colaboradores avançou muito no campo da investigação e do conhecimento, resolvendo, em par­te, certos enigmas do psiquismo humano, falta-lhe, no entanto, a chave da reencarnação, para solucionar integralmente as questões da alma. Impossível é resolver o assunto em caráter definitivo, sem as noções de evolução, aperfeiçoamento, responsabilidade, reparação e eternidade.[31]Freud vislumbrou a verdade, mas toda verdade sem amor é como luz estéril e fria! [32]
Discutindo a problemática do sexo e da sexualidade, desconexa da visão metafísica, vale citar os filósofos Alfred Kinsey e Michel Foucault, para os quais os vieses afetivos resultam do exercício normal do direito à livre expressão do sexo. Em seus estudos e pesquisas, Focault procurou manifestar seu desejo de afastar da ‘realidade’ os desejos interditos, secundar a atividade sexual fecunda, defender a necessidade de insubmissão à moral e afirmar os prazeres paralelos e imediatos, descompromissados com as noções de evolução, aperfeiçoamento, responsabilidade, reparação e eternidade.
Não é sem razão que o afrouxamento dos laços de família verificado atualmente se deve, em parte, à revolução sexual que transgride as regras, fragmenta o amor e segrega a sociedade. Aliás, esse é o perfil da sociedade individualista retratada pelo sociólogo Sygmunt Bauman em sua ‘Modernidade Líquida’. O coletivismo, segundo ele, é a opção de indivíduos incapazes de se autoafirmarem com seus próprios recursos. Afirma, para que ninguém se engane, que a individualização é uma fatalidade, não uma escolha, feito que os indivíduos da era líquida, não atribuem a si a missão de levar a luz ou de reformar os modos da sociedade. Alerta, no entanto, que a sociedade liquefeita goza de liberdade sem precedentes para experimentar, mas, ao rejeitar a assunção de responsabilidade por suas ações, a individualização que objetiva a autossuficiência do indivíduo pode ser factível ou ilusória, e pode cobrar alto preço de quem tem a coragem de escolhê-la:
[...] se o egoísmo, fantasma que atormentou a espécie humana em todos os períodos de sua história, “seca as sementes de todas as virtudes”, o individualismo, aflição nova e tipicamente moderna, seca apenas “a fonte das virtudes públicas”; os indivíduos afetados estão ocupados “criando pequenos grupos para seu próprio desfrute” e deixando a “sociedade maior” de lado.[33]
Então, nota-se com essa visão de Bauman, em cotejo com o pensamento de Focaut, que há encadeamento histórico na sequência de lições em favor da liberdade de qualquer tipo de expressão ou da criação de toda ordem de direitos. Dado que o sexo respira cada vez mais aliviado ao distanciar-se da sujeição de poder que insiste em freiá-lo, Focaut indaga:
O que significa o surgimento de todas essas sexualidades periféricas? O fato de poderem aparecer à luz do dia será o sinal de que a regra perde em rigor?.[34]
Certamente! A difusão de trabalhos como os que ele produziu, que asfixiaram as regras em apoio à livre expressão da sexualidade, baseada no direito incondicional à fruição do prazer, em vez de iluminar os pontos obscuros da homossexualidade, maculou o sentido real do sexo. Esse filósofo entusiasta, que oscilou nas faixas tênues da verdade e da ilusão, obstinou-se em desvendar a que veio o sexo, porém, da leitura de sua ‘História da Sexualidade’, nota-se que apenas colheu fragmentos da verdade:
O sexo, essa instância que parece dominar-nos, esse segredo que nos parece subjacente a tudo o que somos, esse ponto que nos fascina pelo poder que manifesta e pelo sentido que oculta, ao qual pedimos revelar o que somos e liberar-nos o que nos define, o sexo nada mais é do que um ponto ideal tornado necessário pelo dispositivo de sexualidade e por seu funcionamento. [35]
Ele entende o sexo como um ponto no corpo insculpido pela natureza, servindo de luz intermitente para anunciar a manifestação dos desejos e da sexualidade. Não entrever nesse ponto o que é claro como as estrelas: o sexo é um dos alvos no qual o divino assenta seu amor, a fim de burilar quem por ele é atraído e de fazer com que a vida de alguém com ele pareça um templo de esplendor. O sexo, na ordem das missões divinas, não é apenas um ponto de referência na fisiologia sexual  para a manifestação da sexualidade, é, sobretudo, um feixe de energia sagrado, poderoso e multifário, necessitando de maior entendimento acerca de sua ação na vida do Espírito humanizado. Focaut não admite no sexo essa transcendência, mas admite nele a produção de efeitos de natureza diversa daquela que se conhece: “A natureza colocou no ser humano essa força necessária e temível sempre pronta a ir além do objetivo que lhe foi fixado.” [36]
Michel Focaut não percebe que o ‘além’ que as forças do sexo fixam o convida a mirar dimensão  na qual parece não acreditar: a vida além desta vida. Em suas citações há sempre lições subliminares que, embora o contexto em que são abordadas, versam sobre o sexo em si, as palavras que ele usa para formulá-lo, parecem carregar inconsciente místico, sugerindo uma compreensão da sexualidade no campo metafísico. Mas seus sentidos obtusos, ligados às concepções telúricas, não lhe permitem ir além do raio traçado pelo seu foco pessoal. Quando cita, por exemplo, a personagem Kate, da obra de D. H. Lawrence: The Plumed Serpente, a propósito de sua frase: “Como o sexo pode ser belo quando o homem o mantém poderoso e sagrado e quando ele preenche o mundo. Ele é como sol que vos inunda, que vos penetra com sua luz, [37]  mostra-se insensível ao aspecto metafísico da mensagem. É talvez o caso, também, de quando fala do ato sexual, do ponto de vista da fisiologia, pois, nota-se que suas palavras o traem, eivadas que são de pensamento que resiste ao extrafísico, mas, sem que ele preveja, involuntariamente transcende o alcance que ele quer delimitar:
O ato sexual arranca do corpo uma substância que é capaz de transmitir a vida, mas, que só o transmite porque ela própria está ligada à existência do indivíduo e carrega em si uma parte dessa existência. [...] Em toda emissão espermática existe qualquer coisa que sai dos mais preciosos elementos do indivíduo e que lhe é subtraída. [38]
Embora em alguns momentos sua linha de raciocínio se eleve para decifrar o que ele chama de “movimentos contraditórios da alma [39], aludindo à prática da moral, o brilho de sua obra esmaece ante a restrição que ele impõe ao objeto de sua pesquisa. Atendo-se, como ele dissera, à tarefa de evidenciar alguns elementos, durante a Antiguidade, que poderiam servir para uma história da verdade, “uma história que não seria aquela do que poderia haver de verdadeiro nos conhecimentos,[40]  apenas evidenciou, na lenta formação de uma “hermenêutica de si”, mais perguntas para mais reflexão:
O que na ordem da conduta sexual parece, assim, constituir para os gregos objeto da reflexão moral não é, portanto, exatamente o próprio ato (visto sob as suas diferentes modalidades), nem o desejo (considerado segundo sua origem ou direção), nem mesmo o prazer (avaliado segundo os diferentes objetos ou práticas que podem provocá-lo); é sobretudo a dinâmica que une os três de maneira circular (o desejo que leva ao ato, o ato que é ligado ao prazer, e o prazer que suscita o desejo). A questão ética colocada não é: quais desejos? Quais atos? Quais prazeres? Mas: com que força se é levado pelos prazeres e pelos desejos?[41]
Prosseguindo o exame da história da sexualidade, ao tratar do direito soberano da vida e da morte, Focaut traz a lume uma sentença de Samuel Pufendorf, a qual afirma que
Da mesma forma que um corpo composto pode ter as qualidades que não se encontram em nenhum dos corpos simples da mistura de que é formado, assim também um corpo moral pode ter, em virtude da própria união das pessoas que o compõem, certos direitos que não revestiam formalmente nenhum dos particulares e que cabe somente aos mentores exercê-los [42].
Com essa sentença, quis fazer paralelo entre o novo ser jurídico que nasceu da particularidade e o novo ser jurídico que nasceu da homossexualidade. Apesar de ele apreciar esse conceito, prefere equacionar a problemática da sexualidade com proposição simplista:
Para dizer as coisas de modo bastante esquemático: temos tendência hoje em dia a pensar que as práticas de prazer, quando ocorrem entre dois parceiros do mesmo sexo, implicam um desejo cuja estrutura é particular; mas sustentamos – se formos “tolerantes” – que isso não constitui uma razão para submetê-la a uma moral ou, ainda menos, a uma legislação, diferente daquela que é comum a todos. O ponto de interrogação, nós o colocamos sobre essa singularidade de um desejo que não se dirige ao outro sexo; e ao mesmo tempo afirmamos que não se deve atribuir a esse tipo de relação um valor menor nem reservar-lhe um status particular.[43]
Se a assexualidade é inerente à natureza do Espírito, nada há que se opor à opinião de Focaut quando afirma que a estrutura psicológica do homossexual não difere da heterossexual. Contudo, se é verdade que ambos são da mesma natureza, posto que são Espíritos, não se pode esquecer que ambos são dotados de particularidade bastantes visíveis, em função da riqueza ou da pobreza de conhecimento de cada um, quando expressam seus desejos ou anseios de modo geral. Os gregos não realçavam as diferenças de comportamento dos homossexuais, mas acreditavam que ignorá-las não contribuía para o entendimento do seu modo de ser. Daí o maior interesse em descobrir "com que força” se é levado por desejos desse jaez, em vez de se deter “no modo como são expressos”. Esse ponto é pacífico na compreensão dos filósofos da Antiguidade e é relatado pelo próprio Focaut:
Os gregos não imaginavam que um homem tivesse necessidade de uma natureza “outra” para amar um homem; mas eles estimavam sem hesitar que, para os prazeres obtidos numa tal relação, era necessário dar uma outra forma moral que não aquela exigida quando se tratava de amar uma mulher. Nessa espécie de relação os prazeres não tratam, naquele que os experimentava, uma natureza estranha, mas seu uso exigia uma estilística própria.[44]
Considerando que é assimétrico à proposta deste ensaio o enfoque que Michel Focaut deu ao assunto em lide, retomo a ordem do meu ponto de vista, embasado nas orientações psicografadas pelas nobres almas residentes em planos superiores da esfera extrafísica, para enfatizar, em aliança com a multiplicidade das existências do Espírito, a missão do sexo, bem como esquadrinhar as possíveis causas dos desvios ou perversões sexuais cometidos pelo Espírito que está, temporariamente na Terra, investido na condição de homem ou de mulher.

Um modelo de família que se autoextingue
A vida integral do Espírito, desatrelada dos liames do corpo físico, não depende de acessórios constituídos de matéria grosseira para expressar suas ações.  Sendo assim, estando num ambiente de vibrações quintessenciadas, os instrumentos imediatos de que ele se serve para a realização de seus projetos são o desejo e o pensamento.  Na área da afetividade, por exemplo, é estéril a ideia de fazer opção por um gênero (feminino ou masculino), porquanto esse é um meio existente e útil apenas na Terra, logo, inócuo no mundo espiritual. A exceção disso ocorre quando Espíritos menos evoluídos insistem em conservar no mundo espiritual preferências que os apraziam na Terra ou, quando o desapego à vida terrena é feito de forma conscienciosa, apenas necessitam de um breve período de transição para adaptarem-se ao novo ambiente vibratório.
Por meio da reencarnação, facultada pela relação sexual fecunda dos Espíritos que já estão na Terra, o Espírito que se encontra no mundo espiritual ingressa no planeta para desenvolver suas potencialidades intelecto-morais. Seu tempo de permanência vai depender da complexidade ou facilidade das tarefas que lhe são atribuídas. Todo o processo que antecede a procriação é exercício da manutenção das relações sociais e afetivas, por meio das quais são desenvolvidas a inteligência e a moral. A instituição dos gêneros (humanos) e a materialização dos corpos são coadjuvantes de progresso na Terra:
O indivíduo homoafetivo, que embora saiba tão bem o que sente, sabe tão pouco de si no contexto do universo, deve primeiramente instruir-se para depois extrair do lícito o que realmente convém.  Convém, a princípio, não perder de vista que, tendo Deus criado na Terra os gêneros homem e mulher, mister que seja mantida fidelidade à vontade do Criador, no que tange à necessidade do Espírito de adequar sua psicologia às linhas inteligentes de sua biogênese. Essa postura de submissão à Inteligência Suprema (que não se confunde com subserviência cega) e a necessária compreensão dos seus desígnios demonstram a reverência digna de quem anseia e tudo faz para merecer o paraíso prometido, consubstanciado na perfeição. Nesse sentido, entender o sexo e a sexualidade como expressão sagrada, merece realce frente às tarefas sublimes atribuídas a nós por Deus:
O Sexo, em si mesmo, é instrumento excretor, a serviço da vida. Programado pela Divindade para servir de veículo à “perpetuação da espécie” nos seres pelos quais se expressa, tem sido gerador de incontáveis males, através dos tempos em face do uso que o homem, em especial, lhe tem dado. [...] No atual estágio evolutivo do planeta terrestre, o ato sexual faz-se acompanhar de sensações e emoções, de modo que propiciem prazer, facultando o interesse entre os seres, e assim preenchendo a destinação a que se encontra vinculado. [...] Simultaneamente, devemos considerar que, em sua realidade intrínseca, o Espírito é assexuado e sem preferência ou psicologia específica para uma ou outra experiência na organização física. Por esta razão, a própria vida elaborou formas que se completam em favor da função procriativa. Ao lado dessas, em se considerando o incessante progresso dos homens, na busca da felicidade, os ideais lentamente vão suprindo, na área das emoções superiores, os prazeres que decorrem das sensações mais fortes.[...][46]
Chegar ao ápice da perfeição requer a prática disciplinada pelas magnas prescrições do Criador. A natureza organizou a conjunção dos sexos para assegurar a descendência dos indivíduos e a sobrevivência da espécie na Terra, mas essa é apenas uma das luzes que clareiam as verdades eternas. A atração e o prazer, de modo geral, são dádivas divinas que incentivam a associação dos seres num ideal de fraternidade e amor universal. Somente após muitos renascimentos circunscritos à heteroafetividade, vivenciando as peculiaridades de cada gênero, ora na condição de mulher, ora na de homem, é que o Espírito pode habilitar-se a expressar sentimentos nobres, sem a dependência dos característicos femininos ou masculinos, tal como ocorre nas faixas mais evolvidas do mundo espiritual.
De súbito relance, quiçá sob obra da intuição, desponta na minha mente assombroso receio, pipocando em indagações. Acaso não percebem os entusiastas desse novo modelo familiar que a relação que não fecunda pode, sem a renovação, assistir ao envelhecimento dos indivíduos, assistir até ao seu gradativo desaparecimento da esfera terrestre, já que sem a presença das crianças, diamantes dos amantes, um vazio se constituirá em solo fértil para o cultivo da depressão, dor que enferruja a alma e infelicita tanta gente? Não imaginam, caso a letargia de suas consciências lhes impeça de perceber a sombra que se aproxima e quão opaco será o jardim das relações e da vida sem as cores que aos nossos olhos o sorriso de uma criança sugere? Quem suportará a monotonia dos parques sem as travessuras infantis? Alguém ousa discordar da magia que se opera em nós, diante do chorinho de um bebê, a tal ponto de ela nos fazer curvar ao seu apelo sonoro, em atos de amor e incomensurável desvelo? À cegueira da paixão, que é sempre furtiva, nunca convém revelar o lado sombrio dos horizontes que iludem, mas o tempo, ao qual a vida incumbe de operar essa tarefa, cuidará para que o pano espesso da ignorância humana se refine, mostrando de fato as verdades, algumas vezes sob o elixir do amor, outras vezes sob as lições da dor.   
Os desalinhos não são características exclusivas de quem se demora na homossexualidade, mas da imperfeição do Espírito. Desatinos de toda ordem podem ocorrer tanto nas relações heteroafetivas quanto homoafetivas, contudo, se as relações heteroafetivas são geradoras de ilusões tantas, infere-se que  as relações homoafetivas  são como farpa a mais a arranhar a felicidade futura da alma. Por isso, a prudência recomenda que tudo transcorra conforme o planejamento divino, o qual estabeleceu para cada Espírito missões compatíveis com a estrutura do mundo onde vive. Se ainda não é possível na Terra um Espírito humanizado manter  relação de afetividade com outro de mesmo gênero, baseada em sentimentos que dispensam o concurso do sexo, então os Espíritos humanizados que se deixam enlear por relações fora dessa característica se arvoram a pular etapa importante na evolução da humanidade e que, não vivenciada adequadamente, influenciará de modo negativo as etapas subsequentes de aprendizagem, uma vez que esta não contará com os conhecimentos que somente àquela faculta. Tudo em seu tempo. Leibniz já anunciava que não há movimentos bruscos na natureza. E não existem porque a natureza não dá saltos.  Portanto, é sabido que tanto na natureza física quanto na espiritual, o respeito ao passo a passo de suas construções é fundamental para sua completude e precisão.  É, pois, nesse pensamento que Emmanuel chama atenção para o fato de que não se pode tirar de um recipiente o que nele ainda não existe:
Os tesouros da Ciência e as alegrias da compreensão humana, as glórias da arte e as luzes da sublimação interior são acessíveis a todas as criaturas. No entanto, do rio de graças da vida, cada alma somente retira a porção de riquezas que possa perceber e utilizar proveitosamente. [...] Recorda que Deus a ninguém dá seus dons por medida, contudo, cada alma traz consigo a medida que instalou no próprio íntimo para recepção dos dons de Deus.[47]
O universo, condomínio que reúne vários centros de aperfeiçoamento do Espírito, que são as várias moradas criadas pelo Pai, proporciona abrigo adequado a cada morador, condizente com sua faixa de conhecimento e com seu programa de desenvolvimento. Cabe conhecer o abrigo onde se reside, compreendê-lo, respeitá-lo e aprimorá-lo, não simplesmente mudar o que foi sabiamente estruturado pela Inteligência Suprema, numa nítida fuga ao cumprimento dos deveres estabelecidos. Frize-se que “todo homem tem na Terra uma missão, grande ou pequena: qualquer que ela seja, sempre lhe é dada para o bem; falseá-la em seu princípio é, pois, falir ao seu desempenho.[48]

As dificuldades de adaptação ao gênero
As experiências vividas, num e noutro gênero, permanecem gravadas no subconsciente do Espírito. Ao reiniciar nova etapa de vida na Terra, essas informações vêm incrustadas em sua personalidade. No caso específico das ações que tenham sido protagonizadas pelos excessos da libido, em vida pregressa, certamente repercutirá no comportamento atual do Espírito, provocando desequilíbrios em sua psicosfera. Atentar para as pistas que a consciência dá diante da iminência do cometimento de novos erros no campo do sexo e conhecer as nuances da libido, são meios de exercer domínio sobre as ações dessa energia, evitar ou minimizar possíveis gravames:
Na escala sempre crescente e intensiva da evolução psíquica, o indivíduo se vê em permanente luta com as forças que se lhe desentranham da alma – verdadeiras irradiações da potência intrínseca que é o Espírito no concerto da Criação cósmica. A energia sexual, como carga magnética específica, a gerar e suster impulsos criadores para a renovação e aprimoramento das condições de vida, torna-se-lhe verdadeiro vulcão de possibilidades, marcando-lhe comprometimentos e experiências multifárias, no requinte que passa a emoldurar seus sentimentos e desejos.[49]
Esteja onde o Espírito estiver (no ambiente físico ou extrafísico), no campo de suas ações, a libido é energia sagrada e poderosa que o auxilia, agindo incessantemente em sua vida. Daí a importância de estudá-la bem para bem conduzi-la.  Fugindo a digressões, ressalto que minha analise situa-se no ponto em que a homossexualidade tem estreita ligação com a inadequada utilização da libido em épocas pretéritas. Para tanto, é imprescindível que se tenha em mente, de início, a assexualidade como atributo do Espírito, pois é a partir desse princípio que serão mais bem-compreendidos os embaraços de ordem psicológica experimentados por ele quando estreia ou estagia nesse ou naquele gênero. Nessa linha, o heterossexual que em vidas pretéritas experimentou sequência de repetidas vivências em um mesmo gênero, ao reencarnar, estagiando em gênero oposto, pode, mesmo que tenha respeitado as linhas de conduta preceituadas pela divindade, no que respeita ao uso do sexo ou da expressão de sua sexualidade, enfrentar dificuldades de adaptação ao novo gênero a que se acha comprometido:
A forma, numa como noutra área, é oportunidade para aquisição de particulares conquistas de acordo com os padrões éticos que facultam a uma ou à outra. Quando são conseguidos resultados positivos numa expressão do sexo, pode-se avançar, repetindo-se a forma até que, para diferente faixa de aprendizagem, o Espírito tenta o outro gênero. No momento da mudança, em razão dos fortes atavismos e das continuadas realizações, pode ocorrer que a estrutura psicológica difira da organização fisiológica, sem qualquer risco para o aprendiz, porquanto há segurança de comportamento e nenhum desvio da libido por ausência de matrizes psíquicas decorrentes da degeneração imposta aos hábitos anteriores.[50]
O médico do altiplano, Bezerra de Menezes, acrescenta, com a didática típica de quem detém com profundidade o conhecimento do comportamento humano, que quando há domínio dos impulsos menos dignos da libido e vivendo sexualidade equilibrada no gênero escolhido, fidelizando sua psicologia às suas linhas morfológicas, os Espíritos humanizados são denominados por ele de heterossexuais calmos e seguros, pois são capazes de transitar, se for o caso, por toda a vilegiatura física com autossuficiência, sem conflitos e sem maior esforço.

Os desalinhos e o difícil resgate das virtudes
Ao candidatar-se a qualquer dos gêneros, se no seu planejamento reencarnatório constam registros vinculados a ações dissentes da moral, cometidas na área do sexo, o Espírito sofre os efeitos danosos dos desalinhos. Tais desalinhos na conduta, adquiridos em ações contínuas em vidas pretéritas, cristalizou na memória celular do seu corpo sutil (perispírito[51] condicionamento que repercutiu na organização do seu corpo físico:
Quando, porém, o indivíduo se utiliza da função genésica para o prazer continuado sem responsabilidade, derivando para os estímulos que as aberrações da luxúria a convidam, incide em gravame que é convidado a corrigir, na próxima oportunidade da reencarnação, sob lesões da alma enferma, que se exteriorizam em disfunções genésicas, em anomalias e doenças do aparelho genital, ou na área moral, mediante os dolorosos conflitos que maceram, nos quais o ser íntimo difere in totum do ser físico... [52]
Não tendo corpo físico e mente encontrado o ponto de equilíbrio, vivendo psicologia afetiva desorientada em razão do açulamento e descontrole da libido, as lesões podem ser agravadas, resultando em deformações físicas gradativas na organização do corpo. A sabedoria divina permite que isso aconteça para que o Espírito não reclame haver cerceamento do seu livre-arbítrio. Além disso, sabe o Criador das criaturas que essas reações são instrumentos automáticos de autocorreção de suas mazelas:
De permeio, surge, no laboratório das transformações, a interferência das mentes, produzindo constituições assinaladas que eram os tipos do hermafroditismo e da bissexualidade, que passam a constituir organismo de reeducação para os seus exploradores antigos, agora submetidos a provas de correção entre fortes conflitos e áspera insegurança interior...[...] Quando o corpo se encontra definido numa ou noutra forma e o arcabouço psicológico não corresponde à realidade física, temos o transexualismo, que, empurrados pelos impulsos incontrolados do eu espiritual perturbado em si mesmo ou pelos fatores externos, pode marchar para o homossexualismo, caindo em desvios patológicos, expressivos e dolorosos...[53]
Importante notar que as palavras “homossexualismo” e “patologia”, utilizadas no texto da citação acima, não foram empregadas na acepção literal que a medicina dos nossos dias atribui. A doutrina Espírita nunca considerou a homossexualidade como doença, apenas enfatiza, quando cita a palavra homossexualismo, que as ações do Espírito são gravadas no Perispírito (corpo sutil que envolve o Espírito) e que, quando são profundas, o ponto sob o qual incidiu suas impressões, gera uma lesão que é refletida no corpo material que é formado, ocasionando algumas deformações ou patologias. Não há, na expressão “homossexualismo”, utilizada pelos orientadores espirituais, o sentido de doença da mente ou do Espírito, mesmo porque o Espírito com tendências homossexuais pode se expressar por meio de um corpo são ou deficiente, sem que os sintomas da homossexualidade ou do seu modo de ser seja alterado por conta da disposição orgânica.
É provável que alguns céticos questionem, convencidos por lentes que mostram apenas horizontes limitados, a razão do ‘distanciamento’ do Criador ante os desmantelos ora assistidos na área do sexo, em que a moral parece fenecer, quando Ele poderia, num único ato, no que lhes parece óbvio, interferir e por fim, de modo inquestionável, à sequência de afirmação da cultura do imoral. No entanto, em sintonia com as intenções sempre justas do Ser Supremo, André Luiz responde à questão colocada com a experiência daquele que bem conhece os limites e as incertezas comuns dos habitantes de um mundo de provas e expiação:
[...] sempre que indagamos de nossos Maiores porque não interfere a Divina Providência no campo da inteligência corrompida no mal, a resposta invariável é que o Criador exige sejam as criaturas deixadas livres para escolherem o caminho de evolução que melhor lhes pareça, seja uma avenida de estrelas ou uma vereda de lama. Deus quer que todos os seus filhos tenham a própria individualidade, creiam nele como possam, conservem as inclinações e gostos mais consentâneos com o seu modo de ser, trabalhem como e quanto desejem e habitem onde quiserem. Somente exige - e exige com rigor - que a justiça seja cumprida e respeitada. A cada um será dado segundo as suas obras.[54]
Eis, aí, a sabedoria do Magnânimo ao atribuir no bojo de suas leis mecanismo perfeito de compensação ou de correção. Quando há inobservância de alguma delas, o mecanismo corretor ou moderador é acionado automaticamente para que aprendamos que “todo abuso fere e machuca para nos ensinar a lição da ordem e desenvolver em nós o instinto do autocontrole e o sentido do equilíbrio.[55]
Tendo o Espírito se desvencilhado dos desejos menos dignos e vencido as etapas necessárias ao resgate das virtudes, o Espírito humanizado passa a vivenciar sua sexualidade mais consciente dos deveres plenos da vida, nutrindo sentimentos mais nobres e aspirando ideais superiores, portanto, sem abalar-se ante as sensações do sexo. É o caso de quando:
Outros Espíritos, receosos de repetir as façanhas prejudiciais, solicitam e conseguem formas neutras, o que equivale possuir uma anatomia tipificadora de um ou outro gênero, com uma psicologia e uma emoção destituídas de interesse por tal ou qual manifestação, digamos, erótica. Constituem a larga faixa em que estão as pessoas brandas, cuja aparência inspira sentimentos nos outros, sem que se deixem enredar pelos apetites correspondentes, por serem psiquicamente assexuadas, embora possuam todo o mecanismo genésico perfeito e sejam portadoras dos hormônios correspondentes à sua fisiologia. Assim, mais facilmente executam os misteres que abraçam nos diferentes setores da existência, normalmente afeiçoadas em profundidade aos seus programas de enobrecimento, mediante os quais se elevam e promovem a Humanidade.[56]
Esse modo de ser ainda não é o nível evolutivo que os herdeiros do novo mundo esperam encontrar aqui, porém, até que se complete esse período de transição, as relações humanas nutridas nessas condições vislumbram, talvez, os primeiros passos de afetividade mais consoante o amor pregado pelos prepostos Crísticos. Os Espíritos que vivem nesse ambiente de fraternidade participam, sem o saberem, da sutilização dos corpos, os quais, por sugestão natural e contínua dos seus pensamentos virtuosos, sofrerão mudanças significativas ao longo do tempo, a fim de se adequarem ao biótipo ou necessidades funcionais dos Espíritos da era de regeneração. Assim, a cada alvorecer, ao lapidar-se, o Espírito participa como cocriador na arquitetura de novos corpos, interferindo em sua transmutação molecular, amoldando-o conforme sua linha evolutiva.

A transição do homo sapiens para o homo spirituale
Analisando a escala de progresso mais detidamente, percebe-se, na atualidade, que há inquietação no estado das coisas e dos seres, que certamente se vincula à transição planetária. As lições doutrinárias de Bezerra de Meneses, em harmonia com o progresso universal, agora ampliando as luzes do entendimento acerca do assunto em análise, nos ensinam que o futuro nos acena com um mundo de regeneração, o qual marca a despedida do Homo Sapiens e a chegada do Homo Spirituale, nos assegurando que, se o Espírito é assexuado e evolui, o corpo que o reveste deve seguir seu encalço, evoluindo também:
A própria forma humana vigente hoje, na Terra, é transitória. Entre o Pithecanthropus erectus e o Homo sapiens houve expressivas modificações anatomofisiológicas no ser em progresso, tendo em vista que, sendo superior o psiquismo na atualidade, portanto, o Espírito, este imprime no corpo o que lhe é mais necessário para a evolução a que se destina, assim elaborando órgão e compleição mais compatíveis com as suas finalidades. É compreensível que deste ao Homo technologicus hajam ocorrido sutis alterações que preparam a forma do futuro Homo spirituale em condições melhores.[57]
É concomitante à transição planetária que se opera a sutilização dos corpos. Nesse ambiente de vibrações amorosas, contagiados pela presença dos Espíritos da era de regeneração, será comum depararmo-nos com indivíduos (caso das crianças índigo[58]) portadores de expressão dócil, dotados de inteligência e sensibilidade refinadas e que agem com profundo sentimento de fraternidade incomum. O desinteresse pelas sensações mais grosseiras do sexo, a sublimação da energia criativa da vida (a libido) e o permanente desejo de solidarizar-se com o próximo, são características inerentes a esses Espíritos humanizados que, após longa e proveitosa vivência no bem, em vidas múltiplas, prosseguem em sintonia com os mensageiros do altiplano.

As mídias de massa e o incentivo ao sensualismo
Enquanto transcorre esse processo de transição, o Espírito humanizado permanece asfixiado pelo nevoeiro denso de sua ignorância e, por isso mesmo, encontra dificuldade em desanuviar-se desse breu. Essa dificuldade advém de sua suscetibilidade natural às influências do meio social em que vive.  Ora, a análise das relações homoafetivas revela que sua problemática nasce das ingerências que o Espírito faz das leis divinas, em detrimento de suas escolhas. Deduz-se disso que, se o meio onde o Espírito vive não é o principal responsável pelos seus erros, no mínimo é o que os agrava.  Em meio às diversidades do ambiente físico e social, não tenho dúvida em atribuir aos meios de comunicação de massa parcela considerável de responsabilidade pela recrudescência das imperfeições do Espírito, especificamente no campo do sexo. É uma das interferências externas que fragilizam os valores e desconstroem a estrutura familiar.
Criado para viver numa sociedade fraterna, regada a ensinamento e aprendizagem recíprocos, o Espírito falível, ainda que perfectível, tanto influencia quanto é influenciado. Então, não há como desconsiderar, no campo das ideias, a influência do meio onde ele respira, afinal, a convivência solidária entre seus pares é a tônica de sua vida. Só dessa forma, e não pelo isolamento, ele faz eclodir e desenvolver suas potencialidades. Nesse ambiente holístico de permanente e necessário intercâmbio, o tratamento ou juízo que fará das informações que recebe, seja qual for o assunto, dependerá do seu nível evolutivo. Nesse ponto, a partir do baixo nível evolutivo do Espírito e se aproveitando das deficiências do nível educacional precário que o Estado oferece à sociedade, os meios de comunicação de massa exercem sua influência para ditar costumes como inovação e disseminar usos com velocidade e facilidades que a tecnologia lhes proporciona. Seus discursos, indiferentes ao bem comum, visam implantar padrões de comportamento condizentes com seus projetos. Exemplo disso é quando um jornalista é impelido a ajustar sua opinião sobre os fatos à linha de interesse do veículo. Nesse panorama, a questão das relações homoafetivas, tratadas pelas mídias de massa como fontes de conteúdos rentáveis, também despertam outras tantas modalidades de interesses em diversos setores do mercado de consumo no campo do sensualismo.
Longe de negar a importância da mídia como valioso instrumento de difusão de conhecimento e de entretenimento, pretendo aqui apenas dar transparência ao aspecto negativo que embota seu valor, qual seja, exorbitar de sua finalidade institucional de bem informar e entreter a sociedade, para malformar, deformando valores e moldando o comportamento das famílias. Sua cota de responsabilidade sobre o crescente interesse dos indivíduos nas relações livres no mundo afetivo decorre das abordagens que faz, pois, ao pregar o direito à liberdade de expressão, na verdade mascara sua real intenção de incentivar o sensualismo.
O Espírito, humanizado ou não, mister que se repita, é suscetível às influências do meio.  Em relação aos meios de comunicação, o indivíduo é mais vulnerável às suas influências, visto que sua capacidade de interpretar mensagens é deficiente e está sempre em desvantagem em relação à capacidade técnica de convencimento dos veículos e das agências de propaganda. Nessa condição, basta que tema ou pauta sejam repetidos para que o seu teor de sedução influa no imaginário do indivíduo e o conduza a uma realidade hipostasiada. O constitucionalista Alexandre Sonkievicz, após chamar atenção para os riscos que os grupos minoritários correm ao silenciarem seu dissenso a respeito da sub-representação de suas preferências quanto aos programas ofertados pelos grandes entes privados de comunicação, ressalta também fatores que contribuem para a tendência humana ao consenso, com probabilidade de mesmo risco:
Se não temos dados suficientes sobre algum assunto e um número de pessoas parece acreditar que determinada proposição é verdadeira, há uma razão para acreditar que essa proposição realmente seja verdadeira. Afinal, a maioria das coisas que pensamos não são pensadas pela primeira vez por nós mesmos, mas são consequências daquilo que aprendemos com o que outros fazem e pensam.[59]
Dessa forma, o constitucionalista ainda afirma que há um grande número de evidências que comprovam a capacidade de a mídia influenciar a opinião pública, notadamente porque, quando ela determina agendas, as pessoas acreditam mesmo que os temas são os mais relevantes e que os assuntos escolhidos por ela são considerados de especial importância. Nesse aspecto, não é difícil crer, penso eu, que as programações de TV aberta quando abordam casos envolvendo relações homoafetivas, exibidos exaustivamente nas novelas de horários nobres, não se posicionam como quem conta à sociedade faces da vida que merecem ser conhecidas e refletidas (a bem do bom convívio), mas, apenas fomentam temas ligados à homossexualidade porque convém ao mundo dos seus negócios.
O apoio à ação das mídias na permanência desse estado de coisas vem das correntes pós-modernas.  Proclamam que a pós-modernidade tem seu ritmo próprio e que quem não acompanha sua velocidade perde contato com a realidade.  Acontece que, no jogo da vida, aderir a esse ritmo sem os critérios de mais alto valor, parece desprezar que o conhecimento e a importância de cada fase é determinante não apenas para a consecução da próxima fase, mas vale também para definir o significado de toda a aventura quando analisada em seu conjunto.  Então, sem tempo hábil para analisar os fatos na velocidade que surgem, fica prejudicado o juízo de valor que se possa fazer dessa realidade, já que, segundo o tempo, a realidade agora é outra. É oportuna aqui a reflexão de Licia Arena, mestre de comunicação e mercado, quando assinala em sua crítica que o limite do homem contemporâneo é o seu desejo e que a realização desse desejo está na capacidade de alterar o real mediante o uso da tecnologia, enfatizando ainda que, por conta disso, a insensatez de nosso tempo impõe que não toleremos mais o que dura, porque o artificial é uma exigência da velocidade:
Nada se constitui para ser definitivo, tudo é transitório, fazendo com que a grande aventura da vida seja a sua fluidez, a sua instabilidade. [...] A explosão de imagens e a estetização contagiam o real que passa a ser um apêndice do virtual. A urgência da velocidade e a estética contaminam os sentidos. O real perde a função, passando a ser inexpressivo, necessitando ser ampliado até criar a magnitude permitida antes apenas em sonho.[60]
Expostos, dessa forma, a esses conteúdos instantâneos, oferecidos por sistema de comunicação descompromissado com o bem comum, creio não haver mesmo tempo para os indivíduos, influenciáveis e deficientes em sua capacidade de interpretar e de escolher, defenderem-se das manipulações midiáticas. Roberto Amaral Vieira ao analisar a opinião pública do ponto de vista da representação popular, questiona sua legitimidade pelo fato de ela ser servida por comunicação de massa que monopoliza a difusão do conhecimento e presta informação contaminada. Tal situação, segundo ele, é facilitada em razão de a sociedade ser constituída por  grande parcela de analfabetos funcionais[61] que são atraídos pelo comodismo da informação limitada, oferecida pelos audiovisuais:
A informação disponível é audiovisual. E a informação audiovisual é, por definição, por essência, por necessidade, uniforme. Uniformizada. Unilateral e, principalmente, fragmentada. E assim, ela não enseja, nem reflexão, nem o juízo crítico. Não possibilita a visão de conjunto6. O homo sapiens cede lugar ao homo ocular. Um homem inteiramente dependente das imagens, e, portanto, com muito menos capacidade de crítica ou reflexão.[62]
Nesse cenário, em que a ilusão assume ares de realidade, não é de se admirar, nos dias de hoje, o crescente clamor pela liberdade de todo tipo de expressão como condição primeira para justificar o exercício de toda ordem de direitos, sem levar em conta o equilíbrio entre moral e ética, como exercício do dever, e sem levar em conta a transcendência do Espírito como desdobramento da vida do ser. O efeito danoso desse afrouxamento de conduta, transcorrendo incólume ao jugo emocional dos defensores dos direitos humanos, bem como sob a astúcia da mídia de massa, é a banalização do sexo pela estetização do corpo; a iniciação sexual precoce dos adolescentes e a abordagem da homossexualidade em tom de modismo.
Assim, como educar o exercício de liberdade que se expressa sem responsabilidade, numa sociedade que é estimulada a ignorar a educação e menoscabar a moral? Os defensores dessa liberdade crua, de modo geral, sob pretexto de precatarem-se da temida censura, não percebem que, ao implementá-la de forma intocável, retiram dela sua pureza finalística e conceitual, restando no seu comando a conotação autoritária, visto que prega a liberdade, mas amordaça a crítica. A meu ver, não há nexo em admitir a fruição de direito sem correspondente dever como mantenedor da justiça e do equilíbrio. Ademais, atualmente se instala na consciência dos indivíduos a ideia de que a crítica sobre a homossexualidade naturalmente já é concebida sob o estigma do preconceito. Acontece que criticar a razão ou dar razão à crítica, parafraseando Immanuel Kant, é trabalhoso e ainda pode frustrar o pensamento do crítico quando, dos seus estudos e análises, conclui que razão não lhe assiste.  Então, é imperioso lembrar que não existe liberdade de expressão que exprima tese sem que ela dê oportunidade de outra expressão gerar a antítese. Só dessa forma conhecemos a síntese. Sem crítica não há progresso intelectual nem moral.
Com efeito, se o desenvolvimento intelectual e moral dos adolescentes continuar a ser norteado dessa forma, ficará cada vez mais difícil os pais falarem de moral e ética para seus filhos, pois, conforme adverte Ernst Tugendhat, “quem não tem senso moral não se pode envergonhar moralmente nem se indignar com outrem.[63] De fato, as novelas, principal produto na área de teledramaturgia brasileira, são disseminadoras de novos comportamentos, importando-se mais com o nível de audiência e menos com a qualidade do conteúdo.  Em razão disso, resta aos pais a árdua tarefa de selecionar os conteúdos que, de algum modo, possam incutir no comportamento dos filhos hábito ou costume que lhes seja prejudicial na economia do lar ou nas relações sociais. Sobre a necessidade de estar em alerta quanto a esse cuidado ou filtro, Montaigne chamou atenção para os efeitos que os pequenos atos causam quando viram costumes, afirmando que o hábito, seja qual for o seu teor moral:
Pouco a pouco, às escondidas, ganha autoridade sobre nós; a princípio terno e humilde, implanta-se com o decorrer do tempo, e se afirma, mostrando-nos de repente uma expressão imperativa para a qual não ousamos sequer erguer os olhos [...] O principal efeito da força do hábito reside em que se apodera de nós a tal ponto que já quase não está em nós recuperarmos-nos e refletirmos sobre os atos a que nos impele.[64]
Malgrado o esforço dos pais, seja por orientação direta aos seus filhos ou mediante Violence-Chip[65], devido à grande incidência desses programas nos lares, vigiar a qualidade do que é exibido não é suficiente para diminuir o leque de conteúdos nocivos, devido a dois fatores: i) a impossibilidade de vigília ostensiva por parte dos pais pelo fato de estes estarem ausentes dos seus lares a maior parte do tempo e ii) a incapacidade dos filhos de distinguir, na diversidade da programação exibida, o teor prejudicial escondido nas abordagens sutis e subliminares dos conteúdos. Destacando o poder determinante da mídia no comportamento dos adolescentes, o psicanalista e psicólogo Paulo Roberto Ceccarelli sintetizou:
A mídia tem uma responsabilidade ética com aquilo que exibe e não pode ignorar a sua participação na construção social, na formação de mentalidades e no desenvolvimento psicossocial da criança e do adolescente. Atrelar o que ela veicula unicamente aos pontos da audiência baseada na ideologia de uma cultura globalizante é desrespeitar a particularidade do tempo de maturação da constituição de cada sujeito.[66]
Do ponto de vista da moralidade, um grupo de pesquisadores da área da educação procurou saber se estamos vivendo tempos de ‘crises de valores’ (carregando a noção de que estão ‘doentes’ e correndo o risco de extinção) ou ‘valores em crise’ (em que os valores estariam apenas mudando de interpretação).  A tendência dos pesquisadores foi diagnosticar que “estamos em época de valores em crise e não tanto de crise de valores [67], ou seja, estamos assistindo a um rearranjo moral, na visão de um dos coordenadores da pesquisa, Yves de La Taille.
A conclusão não poderia ser mais acertada, vez que o conceito de moralidade está em processo de mutação por força dos interesses imperiais da globalização. Aliás, como bem afirmou Tony Judt, “numa era em que os jovens são estimulados a maximizar o interesse e o progresso individuais, o incentivo ao altruísmo e até ao bom comportamento se torna obscuro.”[68] Vivemos uma crise de valores porque somos induzidos a primar o imediatismo.  Aliás, é ainda em “Crise de Valores ou Valores em crise?” que somos advertidos de que “a formação de valores morais ou éticos depende de algo além da tomada de consciência do dever: depende de uma motivação interna para a ação, chamada de sentimentos”.[69] Enfatiza que “não se trata de quaisquer sentimentos, fadados às variações, mas, sim, daqueles que estão íncitos numa categoria de valores que se conservam”.[70]
Difícil manter ou fidelizar tal sentimento, se na internet, por exemplo, aos casados, um site decanta a nova moral, garantindo que ter uma amante é normal, por isso, ao advertir que a vida é curta, convida para que se curta um caso. Na TV, a mulher é convidada ao culto narcisista para fazer do corpo sua arte e de sua beleza, o sucesso. O humor inteligente, que fazia graça inocente, agora só faz rir das jaças do sexo. Em flagrante desdém ao amor e à moral, os indivíduos assim seguem dirigidos sob os apelos maliciosos da mídia, que se resumem em compartilhar pecados e sufocar virtudes.
Importante frisar que as redes comunicativas que exercem domínio sobre as massas não se restringem às que operam em nosso globo físico, mas, muito mais que se imagina, abrangem também as redes situadas em ambientes extrafísicos adjacentes ao nosso orbe, operadas por Espíritos ligados à difusão de comportamentos vis e que se comprazem na propagação do sensualismo. Há várias formas de atuação deles com vistas a influenciar os que são receptíveis a suas sugestões.  A ação mais direta se dá quando, ao dormir, o Espírito se desliga parcialmente do corpo pelo mecanismo do sono e, nesse período, tem a oportunidade de renovar suas energias e reencontrar seus afins na pátria de origem (o mundo espiritual). É nessa curta vivência que se operam os recrutamentos ou treinamentos de difusores de ideias lascivas, das quais se recordam tão logo despertem do sono, como bem alerta um orientador espiritual:
Liberdade de expressão é via de mão dupla na qual o livre-arbítrio é a lei que rege o sentido em que nela se trafega. Sendo assim, a escolha, como único veículo disponível nessa via, a depender da suscetibilidade do passageiro às influências dos vendilhões de destinos, pode levá-lo à estação da dor ou da felicidade. Diz-nos André Luiz que “o homem, herdeiro presuntivo da Coroa Celeste, é o condutor do próprio homem, dentro de enormes extensões do caminho evolutivo":
E, se há uma corrente, brilhante e maravilhosa, de criaturas encarnadas e desencarnadas que se dirigem para o monte da sublimação, desferindo glorioso cântico de trabalho, imortalidade, beleza e esperança, exaltando a vida, outra corrente existe, escura e infeliz, nas mesmas condições, interessada em descer aos recôncavos das trevas, lançando perturbação, desânimo, desordem e sombra, consagrando a morte. Espíritos incompletos que somos ainda, aderimos aos movimentos que lhes dizem respeito e colhemos os benefícios da ascensão e da vitória ou os prejuízos da descida e da derrota, controlados pelas inteligências mais vigorosas que a nossa e que seguem conosco, lado a lado, na zona progressiva ou deprimente, em que nos colocamos. [72]
Tudo isso deriva de nossa condição de Espíritos imperfeitos que somos, a qual nos faz suscetíveis às influências dos dois ambientes vibratórios (físico e espiritual) em nossas relações sociais e familiares. Em razão disso, quando se tem como missão galgar os diversos níveis de conhecimento, construindo nossos saberes à base da permuta de experiências vividas por nós com as vividas pelo nosso próximo, é fundamental que prossigamos em sintonia com as diretrizes divinas, a fim de que nossa caminhada evolutiva seja feita de modo segura e justa. Nesse sentido, visto que a perfeição só será alcançada mediante a cooperação mútua, é imperativo que cada um ofereça, numa atitude de solidariedade e fraternidade, sem imposição, sem ferir o direito cardinal de liberdade e de dignidade humano, condições que contribuam para consolidar a felicidade como sentimento real e inabalável.

As glórias da tolerância
O amor, em sua expressão pura, só é possível quando o Espírito atinge nível de conhecimento e de moral verdadeiramente pleno. Somos qualificados como Espíritos carentes de desenvolver as virtudes básicas latentes e necessárias a uma convivência civilizada, a fim de que ascendamos juntos em igualdade de oportunidades e auxiliemo-nos voluntariamente. Porém, enquanto tais virtudes não estiverem plenamente desenvolvidas, devemos cultuar a tolerância como ato virtuoso imprescindível à melhor compreensão das diversidades alheias, e também das nossas.
A tolerância se apresenta, assim, como parte de processo pedagógico que deve facilitar o entendimento, pelo Espírito em ascensão, acerca da razão de ser e existir das diferenças. Se há divergências, significa que alguém, por algum motivo, é diferente no seu modo de materializar aspirações. No momento em que somos capazes de detectar diferenças, automaticamente já fazemos parte delas. Então, nesse contexto, considerando os desníveis de toda ordem de conhecimento demonstrado pelos atores sociais, a prudência sugere, respeitando justamente o alcance de cada um, que se adote a tolerância que for possível diante das ambivalências, como medida de comportamento segura para melhor interpretação das desigualdades e  convivência social mais justa.
As discussões sobre o conceito histórico de tolerância às vezes são inglórias e até parecem contraditórias, porquanto assumem, em algumas situações, valores distintos, como mostra Paulo Meneses, ao afirmar que “as palavras lutam com as palavras, e a realidade a que se referem fica fora do campo de visão.” [73]  Em algumas dessas situações, tolerância e intolerância denotam atitudes de virtude ou de defeito, a depender da finalidade de seu emprego. A tolerância será sempre virtuosa se sua ação resultar em benefícios recíprocos que elevem a alma de quem a exerce e de quem dela é seu alvo.  A intolerância é admissível quando visa a manutenção da ordem e da dignidade das pessoas, como o combate à tortura, à pedofilia, à escravidão, ao narcotráfico, ao terrorismo e ao estupro.
A tolerância à expressão homoafetiva é ato de sabedoria por parte de quem a exerce, pois, reconhecendo os homossexuais tão perfectíveis quanto a si próprio, sabe que a adoção do comportamento deles, a exemplo de tantos outros vividos pelo heterossexual, na linha do progresso, nada mais revela que o caráter fugaz dos modos de ser de quem ainda não alcançou a perfeição. Sem essa correta visão, pratica-se a tolerância hipostasiada, significando “uma atitude neutra de quem não quer aceitar e muito menos amar o outro, mas apenas 'tolerar', permitir como um favor ou condescendência, que ele exista.” [74] Isto ocorre quando o ato de tolerar é ainda embrionário e ainda não alcançou o seu nível de consciência desejável.
Não me ocuparei em deslindar as atitudes extremas que se prestam a abolir práticas sociais intransigentes extremas, porque é sabido que elas geralmente excedem de sua missão. A tolerância de que me ocupo há de ser sempre virtuosa e será aquela que, sem sair do seu eixo de cooperação, se propõe a identificar as diferenças como circunstâncias temporais, próprias de seres imperfeitos, proporcionando meios, com ação contributiva, no sentido de conformar essas diferenças ao ideal de igualdade em regime de fraternidade, em todas as relações sociais.
A tolerância é alimento espiritual extraído e oferecido com base nas aquisições pessoais conquistadas ao longo da vida, portanto, lembremo-nos de antemão que nossas limitações ainda não nos capacitam a aplicar juízo de valor absoluto. Assim, o critério da ambivalência crítica parece ser a adoção mais ética no trato com as alteridades. Recomenda-se, noutras palavras, a máxima evangélica de não se admoestar ninguém, caso a consciência admita que o inverso resultará em dor. Quando a consciência alerta sobre essa possibilidade, então vale a pena investir na tolerância para que a colheita dos benefícios seja profícua. O que nos deve impelir à tolerar o próximo não deve ser apenas a importância do sincero reconhecimento das diversidades alheias, mas, sobretudo, o receio de ferir ou hostilizar alguém com as medidas postas em ação após esse reconhecimento ou entendimento.
Embora as diferenças indiquem que em alguma coisa somos melhores ou piores que alguém, e que não é fácil identificar com precisão essas qualidades ou defeitos, não se tira daí que ninguém está privado de emitir sua crítica, tanto quanto ninguém está isento de recebê-la. Se esse cerceamento ocorrer, o conceito de certo e errado passará a ser axioma inútil e a aplicação da tolerância sem limites pouco contribuirá para o progresso das consciências.

O Côncavo e o Convexo
Na geometria divina, que no espaço e no tempo traça a medida justa do bem viver, por meio de leis perfeitas, logo, imutáveis, importa saber que imagem nossas ações irão refletir no majestoso espelho das verdades eternas. O indivíduo que procura conhecer a si próprio, instruído pelos magnos ditames da Providência, promove exercício inteligente que o auxilia a escolher o espelho que refletirá fielmente o que há de mais sublime em sua personalidade, prevenindo-o, inclusive, dos tantos outros espelhos intermediários que, limitados por sua pobre resolução, distorcem o foco de suas linhas diretivas. O espelho côncavo, por exemplo, aumenta a imagem e diminui o campo visual, enquanto o espelho convexo aumenta o campo visual e diminui a imagem. Nessa linha metafórica, em que se sugere que espelhos refletem o pensamento e as missões do indivíduo, se a concavidade ou a convexidade deles representam suas ações titubeantes, em que momento da vida tais indivíduos se capacitam para reconhecê-las desfocadas das leis divinas?  Esse momento surge, entendo, quando a consciência nos resgata da agitação das discórdias humanas às Leis de Deus para condicionar-nos à paz silenciosa dos acordes soberanos. Ao nível de conhecimento das verdades plenas nos dois planos da vida, a ignorância do Espírito é espécie de estrabismo que afeta a boa visão, que reduz ou dificulta seu campo visual no horizonte de suas missões e atomiza os valores morais, travestindo sempre seus sentidos, pretendendo conformá-los aos seus interesses imediatos, numa cabal demonstração de seu atraso espiritual, isso por que:
Em termos substanciais, a Moral não é relativa, não é mutável em função dos costumes, das culturas e das épocas. Um dia, os cultores da Filosofia entenderão que a Moral Evangélica é padrão eterno, ao qual as outras formas transitórias de moral menor terão afinal de ajustar-se, porque as diferenciações evolutivas, na dinâmica do progresso, não traduzem senão valores provisórios que não se podem confundir com os módulos estáveis do valor maior, definitivo e supremo. [...] Talvez seja, porém, nos domínios da Lógica que a maior revolução terá lugar, na era nova do Evangelho Aplicado, porque o pensamento regenerado não mais adotará premissas mentirosas para chegar a falsas conclusões, rotulando tais descalabros com sinetes enganosos de insustentáveis silogismos. [75]
Creio ter atingindo aqui o meu desiderato, alimentando a esperança de que alguma dessas palavras, ainda que apenas uma, doravante, a cada abrir e fechar de olhos do homoafetivo, possa operar, no âmago do seu ser, efeito sutil que o motive a rever seu conceito sobre a vida, cuja vida é uma só, mas que pulsa em vibrações diferentes nas duas esferas (física e espiritual). Desejo que, num átimo da suprema influência de Deus, ela, a palavra de que falo, desencadeie na mente e no coração do homoafetivo processo de autocrítica, lento, porém, perseverante, que possibilite alijar de sua visão as máculas que impedem seu cristalino de refestelar-se com a luz do discernimento e com o amor que harmoniza e complementa os dois ambientes da vida.  Sob a perspectiva dessa ótica, seguro será o caminho que o reconduzirá de volta à nova conduta, porque os clarões das Leis divinas estarão presentes em todo o percurso, iluminando, como sempre fez, não só sua mente e seu coração, mas todas as consciências do nosso e dos diversos mundos que compõem o universo de Deus.






Homens, irmãos, ainda que não possais viver santamente, à face dos instintos inferiores que nos atenazam as almas, animalizadas ainda por duros gravames do passado culposo, reduzi, quanto puderdes, as quedas de consciências![76]





Bibliografia

62   Amaral Vieira, Roberto.
  O Poder da Mídia e o Controle da Opinião Pública.  Anais da XVI, Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil.  pg. 253.  Setembro. 1996.
75  Áureo (Espírito), psicografado por Sant’Anna, Hernani T.,  Universo e Vida.  VIII, O Divino            Legado, pg. 122,  8ª Edição. 2010. FEB.
33  Bauman, Zygmunt. Modernidade Líquida. Posfácio. Escrever; Escrever Sociologia. pg. 243 .            Edição. 2001. Zahar.
66  Ceccarelli, Paulo Roberto.  Ética, mídia e sexualidade.  Extraído do link                                             http://ceccarelli.psc.br/pt/?page_id=205
18  Constituição Federal de 1988, Artigo 226, § 3º
21  Coelho, Inocêncio Mártires.  Da Hermenêutica filosófica à Hermenêutica jurídica – Fragmentos.       pg. 193 e 196. Editora Saraiva. 2010
5  Denis, Leon. Depois da Morte. Primeira Parte. cap. 8. A Crise Moral. pg. 83 e 84. 28ª edição.             2013. FEB.
14 Ibidem. Cap. 7. O Materialismo e o Positivismo. pg 80.
8  Emmanuel (Espírito).  Psicografado por Chico Xavier. Vida e Sexo. cap. 7. Casamento. pg. 27.         27ª Edição. 2013. FEB.
9  Ibidem. pg. 28. 
47  Emmanuel (Espírito).  Psicografado por Chico Xavier. Palavras de Vida Eterna. Cresçamos para o Bem. pg. 17 a 18. 6ª edição. 1984. Uberaba-MG. CBC - Comunhão Espírita Cristã.
24  Flammarion, Camille Deus na Natureza,  Tomo V, Deus, pg. 404 e 405, 7ª edição, FEB
25  Ibidem. pg. 394.
34  Focaut, Michel.  História da Sexualidade I. A Vontade de Saber. pg. 41. 13ª Edição. 1988. Graal.
35  Ibidem. pg. 145.
37  Ibidem. pg. 147.
42  Ibidem. pg. 128 e 152.
36  Focaut, Michel.  História da Sexualidade II. O Uso dos Prazeres. pg. 48. 13ª Edição. 1984. Graal.
38  Ibidem. pg. 118/119.
39  Ibidem. pg. 27.
40  Ibidem. pg. 12.
41  Ibidem. pg. 42.
43  Ibidem. pg. 171.
44  Ibidem. pg. 171/172.
17  Gusmão, Paulo Dourado.  Introdução ao Estudo do Direito. pg. 69. 45º Edição. 2012
7  Kardec, AlanO Livro dos Espíritos. Questão nº 695. 93ª Edição (histórica). 2013. FEB.
10  Ibidem. Questão nº 795.
23  Ibidem. Questão nº 1.
29 Kardac, Alan. O Evangelho Segundo O Espiritismo (tradução de Guillon Ribeiro. Cap. VI.              Instrução dos Espíritos - Advento do Espírito de Verdade.  pg. 159. 4ª edição especial. 2008. FEB.
48  Ibidem. Capítulo XVII. Instrução dos Espíritos. Os Superiores e os Inferiores. pg. 358. 
68  Judt, Tony.  O Mal Ronda A Terra – Um tratado sobre as insatisfações do presente. pg. 125.             Tradução de Celso Nogueira.  Rio de Janeiro: 2010. Objetiva.
1 Júnior, Enéas Castilho Chiarini.  Homoafetividade e Direito: O Oposto do Que Eu Disse Antes   , extraído do link http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=813
49  Leão /e Luiz, André (Espíritos), psicografado por Wagner Gomes da Paixão. Evolução e Vida. cap. 25. Carga        Sexual. pg. 59.   Edição. 2002. Belo Horizonte-MG: União Espírita Mineira - UEM.
22  Leibniz, Gottfried W.  Princípios da Natureza e da Graça. pg. 7 e 8. Tradução de Artur Morão.        Extraído do link http://www.lusosofia.net/textos/leibniz_principios_da_natureza_e_da_gra_a.pdf
2  Ibidem. pg. 9.  
4  Luiz, André (Espírito), psicografado por Chico Xavier. E a Vida Continua. cap. 8.  Encontro de       Cultura. pg. 63.  1ª edição especial. 2013. FEB.
27  Ibidem. cap. 15. Momentos de Análise. pg. 123.
28  Ibidem. cap. 9. Irmão Claudio. pg. 71.
54  Ibidem. cap. 13. Tarefas Novas. pg. 103.
6    Luiz, André (Espírito), psicografado por Chico Xavier. Missionários da Luz. Reencarnação.  pg.       218 e 219. 3ª edição especial. 2012. FEB.
26  Luiz,  André  (Espírito), psicografado por Chico Xavier. Libertação. cap. 13. Convocação                 Familiar. pg. 181. 33ª edição. 2014. FEB.
72  Ibidem. cap. 1. Ouvindo Elucidações. pg. 21.
30  Luiz, André (Espírito).   Os Mensageiros. pg. 234.  47ª edição. 2013. FEB. 
31  Luiz, André (Espírito).   No Mundo Maior. Sexo.  pg. 165. 28ª edição. 2013. FEB
32  Luiz, André (Espírito).   Entre a Terra e o Céu. Análise Mental.  pg. 91. 2ª Edição Especial.               2011. FEB.
76  Luiz, André (Espírito), psicografado por Waldo Vieira. Sexo e Destino. Primeira Parte. cap.             XIII.  pg. 154. 23ª edição. 2000. FEB.
15  Maximiliano, Carlos.  Hermenêutica e Aplicação do Direito. Interpretação. pg. 9 e 10. 9º Edição.      1979. Forense.
73   Meneses, Paulo. Filosofia e Tolerância. Síntese – Revista de Filosofia da Faculdade Jesuíta de         Filosofia e Teologia. Volume 23. Nº 72. pgs. 5-11. Edição de 1996. Extraído do link:                         http://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/Sintese/issue/view/228.
74   Ibidem.
45 Miranda, Manoel Philomeno de. (Espírito). Psicografado por Divaldo Franco. Transição                   Planetária.  pg. 35 .  5ª Ed. 2013. LEAL.
71 Ibidem. pg. 61.
46  Miranda, Manoel Philomeno deLoucura e Obsessão. cap. 6. Destino e Sexo. pg. 57 e 58. 12ª         Edição. 2013. FEB
50  Ibidem. pg. 62.
52  Ibidem. pg. 62.
53  Ibidem. pg. 59.
56  Ibidem. pg. 58.
57  Ibidem. pg. 59.
64  Montaigne, Michel Eyquem de. Os pensadores. Ensaios I, Capítulo XXIII, Dos costumes e da         inconveniência de mudar sem maiores cuidados as aleis em vigor. pg. 57 e 61. 2ª Edição. 1980.        Tradução de Sérgio Milliet.  Editora Abril.
60  Moellwald, Licia Arena Egger. O mundo, a crise e o espetáculo. Artigo extraído do sitio
19  Nigro, Rachel.   “A decisão do STF sobre a união homoafetiva: uma versão pragmática da              linguagem constitucional”, Revista Direito, Estado e Sociedade, nº 41, jul/dez/2012  
20  Ibidem.   
12  Rezende, Francisco de Paula Ferreira de.   O Julgamento de Pilatos ou Jesus Cristo Perante a       Razão e os Evangelhos, Emprêsa A Noite, 1894
13  Rezende, Francisco de Paula Ferreira de.  Minhas Recordações, Capítulo LI, Coleção                   Documentos Brasileiros 45. Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais.  1987.  Extraído        do link http://pt.scribd.com/doc/76692551/FRANCISCO-DE-PAULA-FERREIRA-DE-REZENDE-Minhas-recordacoes.
3   Saramago, José.  Ensaio Sobre a Cegueira. pg. 241. 1995. São Paulo: Companhia das Letras.
59  Sonkievicz, Alexandre.  Liberdade de Expressão e Pluralismo: perspectivas de regulação. pg. 61.       São Paulo: Saraiva, 2011. (Série IDP)
67  Taille, Yves de La. / Menin, Maria Suzana de Estefano /  e colaboradores.  Crise de Valores       ou Valores em Crise?.  2009. Artmed. Extraído do link http://books.google.com.br/books?   id=_4IrZ0gxTiYC&printsec=frontcover&dq=inauthor:Yves+La+Taille+%7C+Maria+Suzana+De+Stefano+Menin&hl=pt-BR&sa=X&ei=DcGuU4jzLtWqsQSs3YDwDA&ved=0CB8Q6AEwAA#v=onepage&q&f.
69  Ibidem. pg. 13.
70  Ibidem. pg. 17.
63  Tugendhat, Ernst.  Lições sobre Ética. pg. 65 e 66. Petrópolis: Vozes, 1997.
1    Ubaldi, Pietro.  A Grande Síntese – Síntese e solução dos problemas da ciência e do espírito.           cap. 41. Interregno. pg. 169. 23ª Edição, 2010. Fraternidade Francisco de Assis - FAC
11  Ubaldi, Pietro.  A Lei de Deus. cap. 19. O Fracasso da Astúcia.  pg. 184. 5ª Edição.  2001. Fraternidade Francisco de Assis - FAC.
55  Ibidem. cap. 18.  A Musicalidade das Leis. pg. 166.

Observações
51  Substância intermediária entre o Espírito e o corpo físico, extraída do fluído universal, considerada semimaterial.
58  São assim denominadas porque possuem uma aura de tonalidade azul escura e são dotadas de sensibilidade e habilidades especiais. Mais informações consulte http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2012/05/criancas-indigos-e-cristal-o-que-nos.html.
61  Embora Roberto Amaral Vieira tenha evocado a figura dos analfabetos funcionais nos idos de 1996, Thomas Wood Jr (Professor titular da FGV-EAESP), colunista da revista Carta Capital, publicou um artigo em julho de 2013 sobre os analfabetos funcionais, considerando alarmante o fato de “A dificuldade para interpretar textos e contextos, articular ideias e escrever está presente em seletos ambientes do mundo corporativo e da academia”.  Extraído do link http://www.cartacapital.com.br/revista/758/analfabetismo-funcional-6202.html.
65  É um dispositivo eletrônico - criado pela Lei nº 10.359, de 27.12.2001 - instalado nos aparelhos de TV para garantir ao usuário a possibilidade de se defender de programas inadequados (violência ou sexo) que contrariem o disposto no art. 221 da Constituição Federal.








Registrado no Ministérios da Cultura (CRA-EDA/FBN/MINC nº 653-1.258-138)






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